SOBRE A VIDA, A PONTE E AS PALAVRAS

SOBRE A VIDA

O que vale a vida são nossos afetos, não concorda? Vida boa é feita dos prazeres legítimos, e, convenhamos, dos proibidos também. Vida boa se constrói do amor de um pai com o filho, de uma irmã com outra, de um namorado e sua companheira. Da amizade! A vida é maior que a religião, creio eu. Pensar o oposto seria minimizar o próprio sentido de existir. A vida é maior que a ideia de céu e

inferno, de ético e imoral, de certo ou de errado.

Viver tem ligação íntima com questionar nossos dogmas, duvidar das verdades que nos injetam a força na veia todos os dias, da escola até a própria igreja. Tem a ver com não ser dócil e massivo no pensamento. A vida é maior e significa mais que tudo isso e, ainda assim, ela cabe dentro dos laços que construímos. Tanto o é que

podemos amar quem reprovamos, sentir afeto por quem não gostamos do que diz, fala, faz ou pensa. É que não se trata da pessoa, tem a ver com os laços que temos por ela. O afeto.

Nós nascemos da dor – de nossas mães. Somos obrigados a conviver com ela e a causamos, inevitavelmente, a quem nos ama. Mas a grandeza, a majestade e o poder que temos nos laços um com os

outros são o remédio para esse enfermo. Não acredita? Sugere que a única certeza de uma fé tão grande nas pessoas(fantasia maravilhosa) é a decepção?

Talvez esteja certo.

Ou não.

SABRE A PONTE

Esqueça o que te preocupa. Pare o que estiver fazendo. Vamos pensar na ponte José Sarney. Essa mesmo. A que liga o centro da cidade com a área nobre. Além de ser verdadeira obra de arte arquitetônica, de fato um vislumbre, ela me fez perceber e refletir acerca das mudanças, as pessoas na ilha do amor, nosso ritmo de existir... Pense

comigo.

A superfície, abaixo da ponte, inicia vazia, aquecida e timidamente úmida. Inóspita a maioria dos seres vivos. Em um curto intervalo de tempo, como em nenhum outro lugar na crosta do planeta terra, é preenchida pelo mar, resfriada pelas águas e a vida que vem com a variação da maré, para onde até então se via apenas uma lama disforme, recoberta de dejetos e algumas latas e garrafas retorcidas. Eis que surge dessa forma a visão majestosa, imponente pela sua beleza.

A paisagem mais encantadora e a menos digna de admiração aparecem no mesmo local, apenas para dar lugar uma a outra, repetidas e infinitas vezes.

É tão magnífico quanto significativo esse fenômeno. As mudanças na vida, em geral, não seguem esse padrão repentino, elas costumam ser lentas, vagarosas. Nada brusco ou agressivo. São gentis. Como a mudança das marés. A maré que ocupa as partes vazias nas praias, em qualquer outro local do globo, é muito menos voraz do que a de São Luis e ocorre num intervalo de tempo muito maior.

Pode não haver nexo causal, mas acredito que a vida daqui segue o ritmo das nossas marés. Tudo muito frenético: uma coisa dando lugar a outra; a boa notícia dando lugar à ruim; o sentimento bom ao mau sentimento; as perdas aos ganhos. Sempre nesse intervalo invariavelmente curto de tempo e espaço.

SOBRE PALAVRAS

Parece contraditório. Só parece. Mas: palavras não tem expressão e diversas expressões não têm palavras. Palavras, em si mesmas, são vazias. Afinal, se desmancham no ar até que se tornem uma memória distante e inacessível. Não será do aqui está escrito que vou recordar e sentir qualquer coisa. Aquilo que realmente

importa está cravado destro de si. E para muito além do que a semântica pode exprimir!

Emoções não são palavras e não se traduzem nelas, por mais que insistam poetas, filósofos e artistas cênicos. Falta explicação científica sistematizada que conceitue o porquê disso, claro. Ainda bem. Imagine se houvesse críticos com métodos práticos destrinchando o significado e os horizontes do que sentimos?!... Entre nós: viver seria muito chato.

Alexander Barbosa
Enviado por Alexander Barbosa em 30/08/2019
Código do texto: T6733203
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