ALGUMA COISA SOBRE O AMOR

Li e ouvi muitos falarem de amor. Incontáveis poemas, contos, crônicas e romances foram escritos sobre ele e inumeráveis canções foram compostas. Vão, de maneira inacreditável, dos versos mais doces até as melodias mais melancólicas. Que tentam, de alguma maneira, corporificar a emoção de alguém - num papel com pauta ou página de

partitura.

Vários se atreveram, e ainda se atrevem, a escrever inspirados nisso que chamamos de amor. Sem fronteiras de nada. Já me disseram que ele é cego. Não enxerga a quem atinge e é estranho a qualquer justificativa. Ele não vê diferenças ou semelhanças. É um tiro no escuro que acerta o alvo na mosca. Muitos concebem o amor dessa forma. Eu discordo!

O amor que concebo não é cego. Não quero ver a mim mesmo como vítima do destino de quem entrar na minha vida, ou fazer de vítima do acaso quem eu decidir bater à porta procurando abrigo. Que não seja aleatório. Que seja preciso e bem definido o momento.

A cegueira de amar pode estar contida na noção de que corpinhos bem torneados e contas bancárias volumosas não seguram uma relação. “A gente se apaixona mesmo por aqueles tipinhos banais”, falava Cecília Meireles, com certa profundidade de pensamento.

Afirmam-me, com muita frequência, também, que o amar é um mistério proibido à compreensão humana. Um eterno ponto de interrogação. Algo intangível, abstrato, indefinível que habita nas profundezas mais abissais do desconhecido e que assim deve permanecer. Porque uma coisa como o amor não merece explicações. Discordo também.

O amor que concebo não é abstrato ou indecifrável, como se inalcançável fosse. O amor que aflora de mim é concreto, denso a ponto de se tornar palpável. É o amor construído um com o outro e um para o outro. Quando se tira a paciência e o fôlego ao mesmo tempo. Forjados nas horas de deleite – da alma ou da carne - na paixão grande, voraz

e gulosa, volátil e indomável. Está logo alí, esperando para ser compreendido.

Repetidas vezes escutei pessoas sustentarem nossa necessidade da solidão. Nietzsche falava, inclusive, que a solidão é uma virtude. Diziam-me que nos abatemos. Nossa vida, que já é curta, parece nos diminuir. A sensação de impotência consome. Aqueles tristes momentos onde a única vontade que temos é afundar a cabeça no travesseiro e ouvir música triste a noite inteira. Dizem que nessas ocasiões devemos ficar sozinhos. Mas não creio nisso.

Não acho que deva ficar só com meus fones de ouvido depois das rasteiras que levo na vida. Se um riso brilhar por minha causa ou no meu sentido, o mundo se acende e perde o tom acinzentado que assumira antes. Basta isso.

O amor não se esgota naquilo que dizem e disseram sobre ele. Ele se exaure no que as pessoas despertam e vivem uma pela outra e uma com a outra. É assim como o vejo.

06.07.2015

Alexander Barbosa
Enviado por Alexander Barbosa em 29/08/2019
Reeditado em 15/09/2019
Código do texto: T6731798
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