BURACO NEGRO
Hoje vou me entregar
Deixar a armadura cair
E, num movimento brusco,
Assumir que não estou bem
Que vejam meu corpo pálido e ferido
As olheiras que cintilam ao redor dos meus olhos
Minhas mãos frias que chacoalham num ritmo frenético
Minha expressão soturna como que lutando, como que rendendo-se
Que ouçam minha respiração pesada [ofegante]
Os passos ritmados ora lentos, ora adrenados
A voz fraca de timbre triste
O choro abafado entre os ladrilhos alinhados do banheiro
Que sintam
Sintam meu medo
Sintam minha dor
O desespero arrombando minha porta
A ansiedade que puxa meu pé às 3 da madrugada
Deixe-os sentir minha carne fraca, flácida, fétida, fosca
Que eu exploda cada átomo da perfeição que eu mesma construí em torno dos olhos de todos aqueles que agora me encaram aterrorizados
E percebem que eu quando a tristeza te tira para dançar, ignorar seu pedido é explosão
E hoje eu sou
B
U
R
A
C
O
N
E
G
R
O