Astronauta

O níquel escorre pelas ruas da cidade entre os becos, desce pelo esgoto.

A chuva de trocados se acumula, afogam-se uns, boiam-se outros, poucos estão salvos.

No campo- santo a lei do silêncio impera, silêncio!

Não lhe é permitido ser vivo depois das onze, você tem de estar quieto!

O algoz esta preparado, caneta na mão e frieza no olhar.

A alma do carrasco já se fora, arrastada a muito tempo, ele não desejava.

Queria ser astronauta.

Agora, o verdugo escreve rubricas ilegíveis, inesquecíveis e apagáveis, ela compra.

Mata.

Desabriga.

Obriga.

A enchente da moeda derruba os lares simples,

deixa para trás, um amontoado de casas verticais mortas.

O prédio cadáver te deixa perto do céu, perto de ser astronauta, de lá tudo é belo, mal da pra ver as ruas.

Do edifício mortiço, não da pra sentir a pestilência, a vista te faz sonhar, esquecer do chão.

Sorrisos falam, todos podem ser astronauta, só precisam subir.

Paulo Alcides
Enviado por Paulo Alcides em 27/08/2019
Reeditado em 23/10/2019
Código do texto: T6730105
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