Astronauta
O níquel escorre pelas ruas da cidade entre os becos, desce pelo esgoto.
A chuva de trocados se acumula, afogam-se uns, boiam-se outros, poucos estão salvos.
No campo- santo a lei do silêncio impera, silêncio!
Não lhe é permitido ser vivo depois das onze, você tem de estar quieto!
O algoz esta preparado, caneta na mão e frieza no olhar.
A alma do carrasco já se fora, arrastada a muito tempo, ele não desejava.
Queria ser astronauta.
Agora, o verdugo escreve rubricas ilegíveis, inesquecíveis e apagáveis, ela compra.
Mata.
Desabriga.
Obriga.
A enchente da moeda derruba os lares simples,
deixa para trás, um amontoado de casas verticais mortas.
O prédio cadáver te deixa perto do céu, perto de ser astronauta, de lá tudo é belo, mal da pra ver as ruas.
Do edifício mortiço, não da pra sentir a pestilência, a vista te faz sonhar, esquecer do chão.
Sorrisos falam, todos podem ser astronauta, só precisam subir.