Melancolia

Nada é mais melancólico do que o entardecer no campo. Parece que o ar pára e faz silêncio para a natureza dormir. As aves pernaltas cruzam os céus em revoada rumo aos ninhais. O gado, em fila, procura a pousada, enquanto a vacagem vai mugindo seus lamentos chamando por suas crias extraviadas.

A passarada silencia e procura abrigo na ramagem do arvoredo. O dorminhoco, em vôos rasantes, inicia sua vigília noturna estalando o bico feito matraca. E enquanto o urutau ensaia seu canto lamentoso e se disfarça em pau em cima do moerão da cerca, à espera de que apareça algum camondongo para ele jantar, a seriema empoleirada nas grimpas do salgueiro entoa seu canto em oitava decrescente, despedindo-se do dia que pouco a pouco vai morrendo.

E a fumaça da chaminé do ranchinho modesto do posteiro, lá no fundo da invernada, revoluteia no ar, indicando que a chinoca está a preparar a última refeição do dia. É, enfim, a noite chegando sorrateira e maleva para encobrir toda a natureza com seu capuz estrelado, chamando os seres viventes ao repouso.

(Trecho extaído de meu conto - ainda inédito - "O último verão")

O autor

Vinícius Lena
Enviado por Vinícius Lena em 28/09/2007
Reeditado em 29/09/2007
Código do texto: T672905