TRAÇOS

TRAÇOS

O traço se curva buscando o capricho na letra, aos poucos as palavras formadas mostram o que seria uma poesia, poderiam ser palavras de amor, dor, horror, sentimentos antagônicos que rimam pobremente na cabeça de poetas chinfrins.

Porém, muito além do traço, curva-se o poeta, alquebrado pelo tempo, cabeça cheia de vento que vira brisa a cada escrita.

Morre aos poucos o traço, que de firme vai tremelicando, parecendo focinho de coelho e, por falar em coelho, há um pertencente a neta, que sentado ao lado olha-o firme, mas com certo desdém, está cansado de suas incursões poéticas fora de contexto, não tremelica, parece implorar pelo fim de prosas desconexas.

Aos poucos o traço endireita-se, não para sair palavreando e sim, para escrever certo por linhas inexistentes, perdidas no universo das palavras sem rumo, sem coelhos, sem nexo, sem amor, sem dor, sem horror, rimando apenas morte e sorte, também antagônicas porém harmônicas, provocadas pelo tempo.

Arnaldo Ferreira
Enviado por Arnaldo Ferreira em 22/08/2019
Reeditado em 22/08/2019
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