Um amor adolescente

Não sei o que é isto, infelizmente. Devo dizer que fui uma pessoa pouco amada, na adolescência não tive namorada. Decepções e desilusões me desarmaram, e sem revanchismo, às vezes penso que nem meus pais me amaram. Desde criança sempre trabalhei e estudei. Quando eu trabalhava na feira vendendo bolos e picolés, nenhuma mocinha olhava para mim. Também fui invisível quando vendi alguma coisinha de porta em porta, quando engraxei sapatos, quando trabalhei no bolsão das secas, também não fui notado quando vigiei e lavei carros no estacionamento do estádio Juvenal Melo, em dias de jogos ou em outras festividades, também fui imperceptível quando era comerciário na farmácia dos pobres. Por onde passei nenhuma jovem me viu. Sem perplexidade, sei que uma série de fatores contribuíram para que eu não conseguisse namorar na mocidade, mas com certeza o pior deles é o fato de eu ser feio. No meu coração havia um abandonado pomar, esperando alguém para amar, havia um desprezado jardim, desejando que alguém olhasse para mim. Como a fome, a vontade proliferava naquela idade. Não sei se fui espinho ou flor, só sei que senti a dor de não saber o que é o amor. Não trago histórias de amores vividos naqueles anos perdidos, há um vazio abissal nos oceanos dos sonhos tristonhos. Não sei porque as borboletas não bailavam no meu jardim, não sei porque as meninas não viam nada em mim. Eu era uma formiga solitária em um quintal desabitado, sonhando chegar o dia ser de amado. É impressionante como nenhuma adolescente me enxergava. Meus desejos eram doces, meu olhar era triste e minha vida amarga. Naqueles tempos idos, tive alguns amores não correspondidos e várias rejeições que se transformaram em canções. A vida é uma revolta inexplicável e uma angústia insuportável. Estas recordações me trazem frustrações de amores sem sabores. O meu refúgio era o sofrimento, a minha alegria o isolamento. Busquei algum carinho, mas só encontrei espinho. Não recebi nenhuma carta de amor, nem sequer um bilhete de afeto. Devo ter sido um ser abjeto e digo sem frescura, nunca uma adolescente me olhou com ternura. Como pode um ser insignificante almejar um diamante. Na idade adulta finalmente a namorada, mas aí eu já estava com a estabilidade financeira assegurada. O bom é que os pés na bunda me fizeram crescer. Que me levem os marasmos da vida, os desencantos, as falhas mil e que cada trauma que ronda minha alma possa ir para puta que pariu. Gostaria que meus textos não fossem assim tão melancólicos, mas como sou incapaz de imaginar ficção, falo apenas dos assuntos que vivi ou que de certa forma tentei viver e ainda hoje fervilham em meu coração.

Alber Liberato Escritor
Enviado por Alber Liberato Escritor em 15/08/2019
Reeditado em 16/08/2019
Código do texto: T6720691
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