Apenas 24 horas

Estão me roubando.

Eu poderia estar lendo a bíblia, uma boa literatura, gibis, textos com conteúdos significativos no ‘IN’, os sermões de Vieira, os contos do Mário e até as historinhas racistas de Lobato seriam melhores.

Se não fosse esse ‘crime’ daria para conhecer as obras de Machado, ser orientado por Maquiavél, me esbaldar na poesia de Ezra Pound, Trilussa, Drummond, Clarice. Para quiçá um dia plagiar Quintana e escrever sua frase na minha lápide: “Eu não estou aqui”. Teriam me importado para seus corações, alguns entes queridos, dada minha importância, legado, conteúdo.

Poderia estar assistindo vídeos educativos, contemplativos, religiosos ou filosóficos; aprendendo nas batalhas de Davi, com as pelejas de Jó, imitando Paulo – o apóstolo - e mergulhado na intimidade de Jesus - o Cristo.

Ouviria, contemporâneos, homens de Deus pregando o evangelho na CCV, os sermões da IBAB, os ensinamentos de Nicodemus, as provocações da Glocal, do Pondé, do Karnal, do Clóvis, do Cortela, enfim.

Sem entender o amor, de Cristo, eu poderia estar matando, roubando, me prostituindo, fumando as pedras que ‘eu poderia guardar para construir meu castelo’.

Infelizmente me levaram, mediante grave ameaça, o tempo.

Roubaram o pouco que havia sobrado e agora, daquelas poucas vinte e quatro horas, só um pouquinho me resta e ainda disseram que preciso dormir.

Eu poderia estar e ser melhor, por ter me tornado enquanto havia tempo, amor, comunhão. Pasmem! Havia tempo, era possível viver com apenas 24hs de cada vez.

Mas, epidemias, pandemias de ansiedade, gerações instantâneas e descartáveis, as evoluções chegaram, ladrões de tempo, de energia, de olho no olho, de pele na pele; de convívio e comunhão, entraram sorrateiramente, já são aceitos em nosso meio e cada vez mais considerados indispensáveis.

Ladrões!

Só me restaram algumas ‘horinhas’, das poucas vinte e quatro, e se eu vacilar vão leva-las.

Socorro! Estão me roubando!

E eu sei quem é...