Orgulho e preconceito
Não é cortês persistir e renovar os sentimentos que outrora lhe tentei transmitir e que me disseste não os tê-lo absorvidos. Portanto, não lhe faltarei com o decoro. Ouso dizer-te, ainda que me caiba a ternura e a eloquência de um poema, que faltar-me-ão palavras para fazer justiça à forma com que você me fez ruir, linda e graciosamente.
Há mais circunstâncias avessas aos desejos do que coincidências que a eles à vida possa se conformar. As pessoas não são imortais, mas os nossos sentimentos são, e tudo que as minhas emoções tem feito por mim é me destruir a cada dia mais.
Eu esperei como um tolo que você pudesse voltar, mas percebi que o fim tem o mesmo gosto da morte. Ah! É difícil lhe falar sobre esta inveja e orgulho que sinto ao ver-te feliz sem mim, como a paz que acolhe os que partiram, como o meu desejo de estar (e não estar) entre eles.
O esquecimento e o amor são recíprocos e diretamente proporcionais. Por isso, você ficou quando partiu e partiu, enquanto aqui permaneci, exasperado. Me ocorre, porém, que tudo que sinto por você e que todos os versos que lhe fiz ainda vivem...
E por ti, gozam da mesma e primogênita afeição, bastando uma palavra tua para silenciar me completamente. Entretanto, se nada mais houver dentro de ti, não existindo nada pelo qual devamos nos perdoar, quero que saiba de algo; uma coisa que me representa: o que hoje adormece em mim volverá, talvez, algum dia, se vieres como aquela que a tempos carrega sob os lábios a artilharia de um derradeiro beijo teu.