Sinto 9
Sinto 9
Ô, Chico! sob o império dos seus olhos medonhos de lindos! Não é anjo, por que nasceu homem, bom entendedor da dor e do amor. Não foi por acaso que ganhou o prêmio Camões. Conseguiu, na expressão poética, no mais alto e profundo sentido. Menciona o Pai, implorou a ele que afastasse dele o cálice, sofrimento humano, condição, deplorável e inafastável, de viver no corpo de gente.
Disse, antes de mim! quando nascia da barriga de mamãe, cantando na companhia do Semi-deus Negro, Milton, que entende o trovão, emitindo, os dois, de forma compartilhada, a expressão da dor do humano do ontem, que hoje cresce em número. Mesmo que o palco tenha mudado o cenário, e o nome da Trama.
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta
Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado
Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada pra a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa
De muito gorda a porca já não anda
De muito usada a faca já não corta
Como é difícil, pai, abrir a porta
Essa palavra presa na garganta
Esse…
E eu? sou a única que está submetida à natureza deste mundo, de estar envolvida à partir do corpo físico com sequelas motoras que persistem depois de anos? mesmo pedindo ao Pai que afaste de mim este cálice, ainda, em alguns momentos, entendendo poder ter sido abandonada por Ele.
Até que a completude do Sagrado superabunda em meu ser, assumindo as rédeas para a paz e a aceitação da Providência Divina, que tem o destino sob seu domínio. Sabe onde tudo vai dar.
Prospera, todos os dias, o pedido à Fonte Suprema, que lembre do sofrimento do mundo, no sentido de livrar-nos disto.
Não!!!A dor e a alegria que vivo não é a do outro!! Nem mais nem menos! Eu sei, tu sabes, ele sabe, nós sabemos, vós sabeis, eles sabem...o pior e o melhor que é ser quem é.
Cristo, expressou no extremo da crucificação, indagando porque tinha sido desamparado pelo Pai, mas reconsiderou, aceitando que cumprisse nele a sua vontade.
Que mistério reside nisto? Ele, Cristo no corpo do homem Jesus, tinha o domínio da vida e da morte, era o Filho perfeito de Deus, o Unigênito, Autógeno, podia ver-se livre do sofrimento, não estar submetido a tanto. Mas foi para a morte do corpo, como cordeiro indo para o matadouro.Tudo para cumprir, por intermédio Dele, a vontade do Pai.
A possibilidade da humanidade passar à próxima fase, à chance do humano renascer por si mesmo no novo homem. Filho de Deus.
Disse ainda, na visão da eternidade, tendo o domínio do tempo, que venceu o mundo, que nós venceríamos também.
Sinto lógica nisto, mesmo parecendo ilógico.