O VENTO
O VENTO
O vento, sinto-o passando morno, no mormaço da tarde, trazendo a fragrância da flor e deixando que ela penetre na caverna entreaberta;
onde o silêncio ainda vela o sono dos morcegos sem nenhum alarde; onde um riacho flui entre pedras limosas, sem nunca ter visto o dia, porque lhe predomina a noite na cavidade deserta.
O vento, esse andarilho incansável, faz morada temporária por entre as árvores florescidas;
depois carrega consigo o perfume das flores silvestres, deixando um pouco do aroma oloroso, em cada visita que faz como viandante atmosférico do espaço indefinido.
O vento, ar quente do verão, ar frio do inverno; cúmplice das ocorrências instantâneas existenciais; não se comove com nenhuma delas; apenas é partícipe efêmero como aragem quente ou fria;
tanto no calor do verão como na frieza do inverno; vento que presencia os inúmeros fatos da vida, da natureza, bons e ruins, mas lhe são indiferente;
tanto pode ser pacífico, como brisa fresca campestre; como pode ser violento, como furacão ou tornado em sua rota devastadora.
O vento. Ar que em dado momento para e se esconde não se sabe aonde. Mas após reaparece, e se move nas mesmas horas do dia ou da noite, viajando pelas mesmas rotas e se espalhando para as diversas direções.
Esse vento, às vezes suave às vezes afoito, visita os mesmos lugares incontáveis vezes, com a aparência de ser o mesmo vento, mas não é.
Outro vento se produz, e mais outro, e mais outro continuamente, ventilando, ora quente ora frio, segundo a estação, como elemento natural;
fazendo-se sentir como alma atmosférica por onde passa, cumprindo a sua missão de peregrino incessante, pelas diversas rotas terrestres e celestes.
E quando para de se mover, silenciando o seu tom musical, como uma criança que esgota as energias durante o dia, ó vento andejo, após contemplar a beleza do ocaso no entardecer;
logo ensaia prolongados bocejos, sentindo o abraço da noite silente, que lhe convida, lhe envolvendo com a fragrância suave da flor silvestre;
a dormir no interior da caverna escura, onde os morcegos acordam e voam para sugar o sangue de suas vítimas prediletas.
Escritor Adilson Fontoura