Menor abandonado
Faz inverno nas inspirações. O vento sopra roubando fragrâncias das flores. Brinco de sonhar nos cabelos bagunçados da mulher bonita que passa... No colo do banco da praça, uma canção de ninar escrita no jornal, que cobre o menor abandonado.O tempo é quem a canta, em vozes silenciadas, vendo a vida crescer solitária.
Há tantas moradas na rua! Mas das ruas, só abandono.
A vida é frialdade, no fio das navalhas da desesperança.
A noite veste a cidade e desnuda as luzes. Estas por si criam sombras e vejo-me do lado de mim: escuro, mudo, na mesma pressa que tenho. Assim, somos, diante das desigualdades. Elas caminham do nosso lado, com, a única diferença, de que gritam, e seus ecos permanecem nos rochedos de nossa propensão de ajudar e contrariamente, de nossa incompetência de agir. Somos nação, mas sempre em guerra no nosso território particular.
A fome saboreia a desnutrição, assim como a sede engole a secura.
Os vícios apoderam-se das fraquezas, os crimes festejam fúnebres.
Os poderes criam leis e as leis descumprem-se em nome delas.
Tantos partos para povoação! E tantos nascidos, depois partem sem direção. São princípios dos humanos, usufruírem o que amontoam, somente em prol de si. As teorias apenas enfeitam discursos e assistem as práticas contrárias.
Belíssima interação da poetisa Beatriz Nahas.
Grato pelo carinho, pela poesia linda!
BREU
A cidade se acostuma no breu
do irmão seu
entre a impotência de salvar
e a necessidade de ajudar.
A cidade se acostumou no escuro
que os pobres estão no mundo
sem uma luz para andar
com o perigo de cair sem ninguém para ajudar.
A luz lunar aparece escondida
das nuvens da melancolia
que continuam tentando a esconder,
mas ela continua tentando voltar a aparecer...