Na hora de dormir
Quando criança, eu gostava de coçar os cotovelos de meu avô até cair no sono. Lembro que eu me sentava em seu colo, com uma chupeta na boca, e coçava seus cotovelos. Fosse por serem ásperos, de pele enrugada, que eu dizia gostar deles mais do que os meus ou os de minha mãe, que estava sempre se cuidando passando hidratante para não ficarem com esse aspecto de antigo, de russo. E em um passo de mágica, acordava na manhã seguinte em minha cama, com minha mãe me balançando e o velho na cama ao lado, descansando o peso de anos em suas costas, seus joelhos e sua alma. E passava o dia em função do tempo, aguardando a noite cair novamente a nós dois. Não só gostava de seus cotovelos, como gostava da programação que a tevê à cabo possuía quando eu já deveria estar dormindo. Assistíamos a filmes e séries antigas como Zorro e Os Três Patetas. Também me lembro de como foi a primeira noite após seu falecimento. Talvez seja por isso que hoje em dia eu ainda coce meus cotovelos antes de dormir.
Quando adolescente, aprendi a dormir de barriga para baixo, escondendo parte do rosto no travesseiro. Nenhum incomodo, apenas sonhos sobre a liberdade.
Quando jovem adulto, recém ingressado numa faculdade, parei de coçar meus cotovelos porque arranjara alguém que fazia meu peito de travesseiro. Ficava difícil me mexer enquanto a tinha ali, de olhos fechados sonhando a depois me dizer que jamais largaria de mim. Seus cotovelos não possuíam a mesma textura áspera e desgastada que os meus, tampouco os de meu avô. E dormir com a barriga pra baixo era outra impossibilidade. Dormia e acordava na mesma posição. Sem reclamar, mas a adorar, como se algo tivesse sido preenchido, se eu puder ser piegas.
Quando escrevi essas palavras, me encontrei num misto. Como um produto. Mas não o final. Também balanço minhas pernas, afim de me cansar, de ficar exausto e com isso cair no sono. Ainda coço meus cotovelos, por isso não passo algum hidratante, gosto da textura áspera que possuem. Deito-me com a barriga para baixo e acordo com ela para cima, e sempre me pergunto o porquê disso. E o porquê de mais um dia.
Quando criança, eu gostava de coçar os cotovelos de meu avô até cair no sono. Lembro que eu me sentava em seu colo, com uma chupeta na boca, e coçava seus cotovelos. Fosse por serem ásperos, de pele enrugada, que eu dizia gostar deles mais do que os meus ou os de minha mãe, que estava sempre se cuidando passando hidratante para não ficarem com esse aspecto de antigo, de russo. E em um passo de mágica, acordava na manhã seguinte em minha cama, com minha mãe me balançando e o velho na cama ao lado, descansando o peso de anos em suas costas, seus joelhos e sua alma. E passava o dia em função do tempo, aguardando a noite cair novamente a nós dois. Não só gostava de seus cotovelos, como gostava da programação que a tevê à cabo possuía quando eu já deveria estar dormindo. Assistíamos a filmes e séries antigas como Zorro e Os Três Patetas. Também me lembro de como foi a primeira noite após seu falecimento. Talvez seja por isso que hoje em dia eu ainda coce meus cotovelos antes de dormir.
Quando adolescente, aprendi a dormir de barriga para baixo, escondendo parte do rosto no travesseiro. Nenhum incomodo, apenas sonhos sobre a liberdade.
Quando jovem adulto, recém ingressado numa faculdade, parei de coçar meus cotovelos porque arranjara alguém que fazia meu peito de travesseiro. Ficava difícil me mexer enquanto a tinha ali, de olhos fechados sonhando a depois me dizer que jamais largaria de mim. Seus cotovelos não possuíam a mesma textura áspera e desgastada que os meus, tampouco os de meu avô. E dormir com a barriga pra baixo era outra impossibilidade. Dormia e acordava na mesma posição. Sem reclamar, mas a adorar, como se algo tivesse sido preenchido, se eu puder ser piegas.
Quando escrevi essas palavras, me encontrei num misto. Como um produto. Mas não o final. Também balanço minhas pernas, afim de me cansar, de ficar exausto e com isso cair no sono. Ainda coço meus cotovelos, por isso não passo algum hidratante, gosto da textura áspera que possuem. Deito-me com a barriga para baixo e acordo com ela para cima, e sempre me pergunto o porquê disso. E o porquê de mais um dia.