SOB FRIO DE OITO GRAUS
Sob o frio de oito graus vagueio, em espírito, pelos fumos
Dos passados de ruas e alamedas, becos e avenidas,
Da região central de São José dos Campos, onde atemporais
Visões se sobrepõem, sou menino, jovem e velho.
Esses homens não se saúdam: Os dois primeiros por ignorância;
O último, vergonha. Cruzam-se sempre anônimos, transeuntes.
Em comum a névoa fria, as ruas a percorrer, ao menos essa ilusão.
São as ruas que andam e correm nas pessoas nesse mundo paralelo.
Todos os três reagem diferente ao badalar o sino da Matriz.
O menino faz o sinal da cruz; o rapaz, confere o relógio;
O velho ? Nada sente senão saudade, sinos rescendem a sexo ...
Todas almas mortas ex-residentes do Centro transitam por ali.
Gatos e cães falecidos miam e latem na Vilaça, vêm do Céu,
Iluminados, junto aos pássaros há tempos mortos, que pousam
Em galhos de árvores ressuscitadas ( dentre elas, as figueiras).
O velho arca as sobrancelhas ao ver o pai jovem entregar compras.
No cruzamento da Floriano e a Guilhermino o marco do beijo
(Do primeiro beijo do rapaz),do atropelamento do menino, do
Assalto ao velho ... cruzamento sinistro, da senescência
De cousas velhas retiradas de baús repletos de mofos.
Sob o frio de oito graus de ruas, alamedas, becos e avenidas
O menino conviveu com abusos e violências, teve de crescer
Para apequeninar-se e, de tão minúsculo, sumir-se sem deixar
Saudade ou paradeiro, gratidões a conselheiros, risos ...
Essas vias com as quais o rapaz conviveu eram caminhos
Do nada ao lugar nenhum. O rapaz tentou florí-las, semeando
Flores silvestres nos desvãos e canteiros - Nasceram sim flores,
As do tempo e , assim, aqueles asfaltos se revivificaram
O velho se perde em sombras de prédios recentes e demolidos.
Só pensa no que haveria de ter vivido, mas eis que a névoa
Fria bate-lhe ao rosto, lembra-se do reumatismo, treme,
Abotoa ,na gola e manga, o confortável capote e tudo se dissolve.