Efeito Bailarina
Início de manhã cedinho, mais um dia normal
Considerando as perfeitas condições
Tanto do clima, como da cidade.
O futuro corria bem, como havia de ser.
Novecentas bailarinas,
Uma mentira para mim.
No fim da tarde, o sol não se pôs.
Disseram os especialistas tratar-se de um evento raro,
Que os antigos já previam em suas escritas.
O meu deboche que partira do sofá sequer tocou a mesa.
Com a novidade, a vista da varanda se mostrou mais bonita.
A calmaria de um eterno entardecer
Trazendo a certeza de que a noite não viria.
O tempo contado em dias, conforme ordenava o Código Civil, virou meses, meses viraram décadas.
E o sol, na sua lenta atividade, ora se erguia, ora se escondia.
Numa precisão muito leve, muito sutil.
As coisas ficaram bem difíceis.
Plantações foram destruídas, pois a colheita não era possível.
Profissões foram extintas por diversos motivos,
As pessoas acuaram-se em suas casas,
Os governantes e suas corjas refugiaram-se em locais onde a população mais hostil não podia chegar.
Fácil perceber a necessidade do roubo, do furto e da matança
de bichos ou não bichos.
As aves que vinham do sul apresentavam uma penagem estranha, colorações desconhecidas até mesmo para os homens da ciência.
Por necessidade, muitas pessoas delas se alimentaram.
Isso fez a população reduzir o número de civis, além de mortes súbitas, doenças até então não conhecidas e às vezes já conhecidas pela falta de cura, epidemias se espalharam pela falta de medicamentos e itens de higiene.
Fora a fome, a violência e o abandono.
No décimo terceiro dia do décimo terceiro ano,
O sol se pôs e a noite veio.
Do alto aqui do prédio, vejo a cidade em silêncio.
Jardins, carros abatidos e garagens roubadas.
Esquinas vazias e seus cruzamentos,
São prédios, ruínas, entre outros lugares,
As nuvens se movem nas minhas retinas.
E a cidade dorme feito bailarina.