SOB AS CRUZES DA FÉ TERRACOTA

texto extraído duma imagem que fotografei...

As imagens têm voz lancinante mas, ainda que gritem alto num silêncio mudo e auto explicativo, nem todos as ouvem tampouco as socorrem.

São tempos e tempos de sons inaudíveis das cenas que insistem em crescer e ficar.

Eu não escreveria nada sobre determinadas fotografias que soam sozinhas em mim, só digo que ao passar por aquela cena a poesia reflexiva clicou mais alto.

Os tijolos a vista são algo cáusticos porque denotam a olhos vistos todos e todos os esforços de anos a fio, na luta terracota pela vida digna, pelo consolo líquido que se esvai sem saneamento dos sentidos, junto ao meio fio esburacado duma vida que passa sem ser notada.

Vida?

E quem de nós poderia levantar a cruz da fé pelo semelhante não fosse tão somente as pás da esperança soerguida aos céus a pulso, tantas vezes roubadas do próprio Direito de acreditar; as que removem com as mãos do impossível o folego do substrato vital ,tijolo a tijolo, rumo ao reboco das construções mais tênues das montanhas das vidas?