O sofá e a rede
O Sofá e a Rede
Gosto de coisas que tiram os meus pés do chão, quase todas são poéticas, me desligam do peso dos dias ou de coisas comuns. Coisas que tiram os pés do chão cessam por instantes minha tensão.
Estive deitado numa rede do tipo indígena, raros objetos nos trás tamanha mansidão. Não sinto o mesmo pelo meu sofá é algo menos estranho e nada poético é como uma parte contínua de mim. Nele me assento, como, deito, durmo e levanto, uma intimidade fria sem paixão, não existe poesia ou qualquer coisa que inspire arte, não há o que contemplar na minha relação com meu sofá. Por mais que seja macio, quente e aconchegante é sem tempero, um objeto estático, se olho pra frente vejo a TV, se viro para trás não enxergo nada, o encosto não deixa, o encosto do sofá é como meus pés ou minhas costas, são sozinhos, voltados para o abandono, se meus pés pisam o chão se
sujam sozinhos e carregam o peso de meu corpo e se minhas costas desencosta volta-se para trás também, sozinha, engraçado sinto dor nas costas e nos pés.
Pensei e sentir pena da sola dos meus pés, de minhas costas e do encosto do sofá.
Deite-me numa rede, do lado de fora e vi que tudo numa rede é poético, inspira arte. Suas duas pontas se firmam a pontos paralelos, me lembrei da ponte que liga uma coisa a outra, um lugar a outro, deve ser por isso que estar deitado numa rede me trás paz, acho que a rede me leva do outro lado de mim. A rede não tem encosto, quando nela me deito meus pés e costas se elevam ganham um reconhecimento merecido.
A rede é tão poética que me faz pensar em coisas divinas, pois a melhor coisa da rede é que ela balança, com um pouco de minha força ela continua balançando, estranhamente sozinha é como se uma estranha força fizesse que a minha multiplicasse e bem lentamente continua.
Nela me deitei, ela balançou, a brisa soprou, meu coração se acalmou, muito pensei, escrevi uma prosa então me apaixonei.