Carregando Minha Cruz

Escrevo meus poemas para eu mesmo ler.

Se outros o fazem, acho bom,

mas tenho dificuldades em aceitar críticas,

porque tudo o que escrevo

são experiências da alma.

São punhados de terra que, depois de cavado o solo,

não cabem mais no mesmo buraco:

misturam-se a outros punhados de terra.

Embora sinta uma dor sem remédio,

prefiro a desilusão provocada pela crítica,

o desmascaramento do rosto

que se apresenta pálido

depois que a maquiagem é tirada.

Não quero deixar de ser o centro

e por isso me centro naquele que critica

e não na crítica.

Levo para o lado pessoal.

Sou latino.

A capa bonita que uso e que se chama orgulho

encobre o defeito, a frustração, a limitação;

o medo de chamar a atenção.

Se aceitar que alguns sentimentos genuinamente humanos afloram

quando me deparo com situações genuinamente humanas,

me sentirei fraco.

Mas, corajoso, aceito.

Ser sempre forte só expõe a hipocrisia negada.

Tenho aprendido tantas coisas diferentes

sobre tantas coisas indiferentes,

e é tão difícil ensiná-las.

A escola ainda planta as mesmas ervas daninhas

que intoxicam as mentes, os corpos e as ações,

e quando tento escrever

no retangular espaço suspenso no ar

o giz se quebra,

ou às vezes as cores se misturam

e ninguém enxerga o que foi escrito

em forma decrescente por falta de linhas.

Professei por tanto tempo

o que levei tanto tempo para acreditar

e ninguém quis dar ouvido.

Professava, e depois que tomava um pouco d’água

pra molhar a garganta já seca,

escutava sempre alguém dizer:

‘Quem creu em nossa pregação?’

Não quero ser professor.

Só quero professar o que acredito que acredito

em meio ao inacreditável ruído das grades

e portões de ferro.

A cruz de madeira metia medo,

porque era de fabricação própria.

A de neón custa dinheiro,

mas ninguém a teme.

Abilio Arruda
Enviado por Abilio Arruda em 22/07/2019
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