Voe, dizia o vento hoje

Sentei-me a beira do abismo e sorri. Esqueci-me de que o abismo era eu. Por um momento apenas observei a paisagem que estava sob os meus pés e vi uma colina distante-distante, bem longínqua. Comparei ao que sentia por você, meu caro amor instantâneo. Após uma decepção, via um vazio enorme em mim, quase uma crise de subsistência.

Você era uma droga (em todos os sentidos). Mas não uma droga comum, era estupenda, daquela que você usa uma vez e quer matar-se em seguida. Bom, não sei se alguma droga tem esse efeito; acontece que eu sou careta.

Retomo então aos meus pés e percebo que o céu escurece, assim como o seu amor escureceu para mim. Acho que uma tempestade vem vindo. Perco-me na ventania que assopra os meus cabelos e traz um arrepio, consigo ouvir até as batidas do meu jovem e idoso coração: ta-tum ta-tum.

Ouço o vento dizer “voe, voe, longe”. Bem que me deu vontade de ir mesmo, contudo recordei que a colina estava distante. Desisti. Melhor deixar inventarem um novo método de tele-transporte; enquanto isso eu continuo aqui, feito hipócrita. Feito você.

Ta-ta-tum-tum

Ta-ta-tum-tum