Trim, trim, trim... Era o sininho tocando como se fosse um acelerador natural do paladar infantil. Crianças são feito arroz doce quente, é uma delícia, mas pode dar dor de barriga. O coraçãozinho devia receber uma espécie de jato de esperança sob a forma de sopro de felicidade, ao sublime toque que era um convite. Trim, trim, trim... Era a saliva praticando sua arte de dar água na boca; era a corrida curta mais emocionante até o portão; era a respiração ofegante e o sorriso no rosto de quem buscava o avô pelos olhos e esperava o seu sim, vindo como um despertar da cadeira de balanço e a conferência se no bolso da camisa social tinha a quantia necessária para comprar a alegria. O pulo no colo como um voto de confiança de quem não acreditava que sozinho seria capaz de chegar lá: - Vô, vamos lá! Corre. E aquele artefato original cheio de furinhos onde a madeira disposta em palitos, trazia cores vivas, contagiantes, feito um arco-íris ensacado em papel transparente e separado em amor em pedaços. - Qual cor você quer? - Rosa! Feito o nome da vovó. Ela vai ficar feliz não vai vô, por ter escolhido a cor do nome dela? E os meninos da rua vinham como quem sentisse a alegria no ar puro e rarefeito da praça onde a vida corria manso. Era assim que o “o algodão doce” fazia dos nossos domingos um momento terno cheio de expectativa. Até que um dia, às oito horas, o relógio antigo do vovô badalava, a cadeira balançava, mas ninguém corria. Nem o colorido do macio sabor doce passeava pelas ruas da vila, pintando as almas das crianças da rua com lembranças inesquecíveis; até que um dia o sininho silenciou; até que um dia, o algodão doce virou lembrança amarrotada em vida bem passada. Porque o Seu João, moço das mãos coloridas de algodão, onde o corante impregnou, foi ali entregar doçura no céu, onde como ele bem dizia, “Deus faz algodão de graça: olha para nuvens foi Ele que fez.” E foi assim, num domingo em que as nuvens de algodão enfeitavam o céu de pureza que se ouviu o toque pela última vez e ele foi se distanciando. E o seu João levou seu carrinho pro céu. E em dias de nuvens livres, sempre vejo seus dedos coloridos acenando como se fossem elas (as nuvens) algodão doce.