Explícito

Um brinde a mais uma fuga. O retorno afirma sua autenticidade na maneira em que transbordam em minhas veias a incerteza de cada reviravolta a minha senciência.

Mergulhei de cabeça nos parágrafos de cada página desta minha nova história, consumi sua fantasia como a mais eficiente anestesia, e para a minha surpresa, seu efeito surtiu da mais perfeita maneira.

Procurei em todos os cantos por mim, esqueci-me de quem eu era, recriei-me do que sobrou em partes costuradas e pedaços colados de volta ao seu devido lugar. Tenho um nome, mas não um significado estável, nenhuma explicação ou hipótese, sem maneiras de prever a desolação ou prosperidade de meu destino.

Descartado os protestos do tempo, um conceito já ultrapassado. Minha casca um dia frágil se torna uma armadura desgastada, e sem espadas de motivos, luto com minhas mãos nuas contra milhões de entidades que se espreitam na envoltória escuridão que nem mesmo os raios solares de novos dias não sucedem em iluminar.

Fico agora cada vez mais afastado do abismo, ainda observo as margens das limitações de minha visão, imagino o que há acima de suas nuvens, se algo se esconde na profundidade do mar ou simplesmente caminha em terra até chegar aqui. Ainda paciente, ainda esperançoso, meus mais queridos defeitos.

Fixação na calmaria em que epílogos como este fluem junto ao silêncio, mesmo sem conclusões ou ponto final algum nas frases que ainda estão sendo escritas, apenas três pontos a sua continuação ambígua. Mas explícito se torna o que tudo isso significa, clareza ganha seu foco ao desbravar a resposta desta mais uma interpretação.

Agora eu sei, agora eu sinto, agora eu entendo. Não importa se deste céu cinzento caia uma tempestade, um dilúvio ou apenas uma serena chuva sobre o novo mundo, abrirei meus braços a receber seu impacto em minha pele seca e sedenta.

Fica menos árduo, fica melhor com o passar das mágoas, fica de uma forma que eu desejo que fique para sempre. Eu amo como as coisas permanecem aqui e agora, desprovidas de som ou movimento. Uma intermissão que serve de descanso para o que está por vir. Um retrocesso me fazendo ver o que se foi, tudo o que foi dito e feito e está bem além de mim.