SILÊNCIO!  MINHA INSPIRAÇÃO DORME. 

Minhas palavras andam mofadas. Meus sentimentos, úmidos. Minhas vontades, cinzentas. Meus sonhos, desbotados. Sinto-me um terreno barrento em tempo de chuva. Talvez não seja chuva, apenas uma garoa chata dos dias chatos, que me tornam chata. Nem ervas daninha arriscam-se a brotar. Não tenho nenhuma companhia, nenhuma flor, nem um passarinho e nem mesmo um urubu. Sou quase uma paisagem desolada. Meu termômetro interior anda por volta dos dez graus. Por minhas janelas abertas e portas sem chaves, somente transitam o “tempo e o vento”. Em minha alma calma os sentimentos dormem os sonos dos justos e as palavras, por mais que eu insista, não reverberam. Sem consentimento, elas circulam sem verbos nas minhas veias. Nos meus dias sem rimas, até escrever poemas me parece uma mania estranha e então, eu me torno uma pessoa qualquer, habitante da fronteira de um lugar qualquer do globo celeste, contagiada por sentimentos insossos. Sou vassala, neste momento, obedeço as ordens do  meu senhor e  imperador Silêncio.