O AFÃ

O poeta tem pressa.

Para ele vida é um rio que flui sem jamais retornar à nascente.

É um coração esvaziado, que percute feito o bumbo.

O poeta retroage para reencontrar a vida.

Antecipa-se aos eventos. E, em vez de afastar as desditas, engole-as sem triturar.

No afã de ter seus desejos manifestos

arquiteta o universo, fazendo dele seu paraíso, mesmo que pareça inferno.

O poeta arruma seu dormitório em desespero.

Escolhe a caverna que vai acolhê-lo ou cair sobre sua própria

cabeça.

No apogeu do afã classifica os papiros onde expressa as ideias, exprime

as palavras em alto relevo e sepulta-as no baú imemorável da alma.

Joel de Sá
Enviado por Joel de Sá em 26/06/2019
Código do texto: T6681922
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