Uma roda de conversa...
Quem teve a melhor passagem?
A mais trágica?
A mais cômica?
A mais excêntrica?
Estamos no além...
E enquanto alguém contava sobre o instante
em que a aeronave rasgava oceano adentro,
outro descrevia com paixão
a visão da deusa médica que antecedeu a cirurgia e
um maluco jurava que não errou a curva,
mas mesmo assim desceu a ribanceira.
E eu pensando como ia contar
que vim pra cá porque engasguei...
A mulher relembra os dias maus
ao lado do homem que deveria protegê-la.
O esportista, saudoso do prazer da adrenalina,
culpa a montanha pelo desastre.
O trapezista lamenta o salto,
que de mortal tinha mais do que só o nome.
E eu que só podia contar
como foi que engasguei...
O ator, a cena do tiro, o ápice do herói,
a bala que não era de festim.
A sub celebridade que comprou um jatinho
mas economizou no combustível.
O rock star orgulhoso da overdose que,
segundo ele, bateu todos os recordes de hiper saturação.
E eu que só mensurava
o quanto é ruim engasgar...
O casal feliz por terem viajado juntos, de mãos dadas,
depois de uma vida inteira de amor e resiliência.
Outro relata o acidente fatal
na tão sonhada lua-de-mel.
E ainda um terceiro ri, ao relembrar de
como se exterminaram numa desavença banal.
E eu só conseguia lembrar
de como engasguei...
Ouvi o causo do adúltero que camuflou até o fim,
tanto que foi velado no santo lugar com missa e unção.
Também do suicida, que se precipitou pela gravidez da amante
sem saber que o pai era outro.
E ainda do velho em estado de graça,
após um justo infarto na casa das boas primas.
E agora eu já tenho certeza
da desgraça que é engasgar...
As crianças rindo de como, por peripécias ou teimosia,
acabaram entrando no túnel.
Tanta gente que respirou por mais de meio século
e seguiu a luz sem nunca ter vivido.
Sacerdote, professor, guru, político e salafrário,
todos se achavam eternos quando... fim.
Criei coragem pra dizer que só tomei o rumo daqui
depois que engasguei...
Não adianta falar que foi sem querer,
que me contaram uma piada fora de hora,
que alguém me fez cócegas
enquanto eu bebia água,
ou que me assustaram por detrás da porta.
Ou ainda pior: que me pegaram com a boca na botija!
Nem preciso inventar que estava comendo pipoca,
ou tomando Coca-Cola de uma só vez.
Também não vou colocar
a culpa na canjica com coco ralado,
nem no exagero de pimenta na sopa
ou que bebi cachaça forte de alambique fraco.
Se eles soubessem que eu estava
apenas chupando mexerica azeda,
não iriam acreditar!
Engasgados de tanto rir,
talvez de novo partissem.
Mas não vou negar:
Eu cheguei até aqui
só porque engasguei...
E nem havia pensado nisto, até que me senti
esvaindo, sem fôlego, a morrer de tanto rir
e a pestinha da minha filha descreveu a cena:
Do outro lado da vida, muitos às gargalhadas
compartilhavam entre si as histórias da passagem,
todas dramáticas, românticas, interessantes, completas...
Enquanto eu só tinha pra contar
que um dia engasguei...
Quem teve a melhor passagem?
A mais trágica?
A mais cômica?
A mais excêntrica?
Estamos no além...
E enquanto alguém contava sobre o instante
em que a aeronave rasgava oceano adentro,
outro descrevia com paixão
a visão da deusa médica que antecedeu a cirurgia e
um maluco jurava que não errou a curva,
mas mesmo assim desceu a ribanceira.
E eu pensando como ia contar
que vim pra cá porque engasguei...
A mulher relembra os dias maus
ao lado do homem que deveria protegê-la.
O esportista, saudoso do prazer da adrenalina,
culpa a montanha pelo desastre.
O trapezista lamenta o salto,
que de mortal tinha mais do que só o nome.
E eu que só podia contar
como foi que engasguei...
O ator, a cena do tiro, o ápice do herói,
a bala que não era de festim.
A sub celebridade que comprou um jatinho
mas economizou no combustível.
O rock star orgulhoso da overdose que,
segundo ele, bateu todos os recordes de hiper saturação.
E eu que só mensurava
o quanto é ruim engasgar...
O casal feliz por terem viajado juntos, de mãos dadas,
depois de uma vida inteira de amor e resiliência.
Outro relata o acidente fatal
na tão sonhada lua-de-mel.
E ainda um terceiro ri, ao relembrar de
como se exterminaram numa desavença banal.
E eu só conseguia lembrar
de como engasguei...
Ouvi o causo do adúltero que camuflou até o fim,
tanto que foi velado no santo lugar com missa e unção.
Também do suicida, que se precipitou pela gravidez da amante
sem saber que o pai era outro.
E ainda do velho em estado de graça,
após um justo infarto na casa das boas primas.
E agora eu já tenho certeza
da desgraça que é engasgar...
As crianças rindo de como, por peripécias ou teimosia,
acabaram entrando no túnel.
Tanta gente que respirou por mais de meio século
e seguiu a luz sem nunca ter vivido.
Sacerdote, professor, guru, político e salafrário,
todos se achavam eternos quando... fim.
Criei coragem pra dizer que só tomei o rumo daqui
depois que engasguei...
Não adianta falar que foi sem querer,
que me contaram uma piada fora de hora,
que alguém me fez cócegas
enquanto eu bebia água,
ou que me assustaram por detrás da porta.
Ou ainda pior: que me pegaram com a boca na botija!
Nem preciso inventar que estava comendo pipoca,
ou tomando Coca-Cola de uma só vez.
Também não vou colocar
a culpa na canjica com coco ralado,
nem no exagero de pimenta na sopa
ou que bebi cachaça forte de alambique fraco.
Se eles soubessem que eu estava
apenas chupando mexerica azeda,
não iriam acreditar!
Engasgados de tanto rir,
talvez de novo partissem.
Mas não vou negar:
Eu cheguei até aqui
só porque engasguei...
E nem havia pensado nisto, até que me senti
esvaindo, sem fôlego, a morrer de tanto rir
e a pestinha da minha filha descreveu a cena:
Do outro lado da vida, muitos às gargalhadas
compartilhavam entre si as histórias da passagem,
todas dramáticas, românticas, interessantes, completas...
Enquanto eu só tinha pra contar
que um dia engasguei...