Volatilidade
Travou,
maldita seja toda volatilidade
da memória insuficiente deste gadget.
Dedos patinam às bordas
como ginastas após exaustivos treinos.
Dedos encontram o toque
com cem por cento de efectividade.
Parabéns para mim.
Microconquista diária,
um pouco de força faz com que marque a ponta dos dedos,
retangular e com um símbolo especial no meio,
como gado com ferro em brasa,
mais sofisticado e fluído talvez.
Inferno astral
Uma milieternidade corrói o peito.
Impaciente
todas as cores dançam
numa abstração confusa
que verte em logomarcas e sons irritantes.
Tenho suspirado um pouco mais,
já consigo até antever o que preciso.
Tantas tramas em redes.
O particular à céu aberto,
o universo na palma da mão.
Um sopro.
Vamos lá
Antes de retomar
ao sacro ritual da vida contemporânea
vejo algo inusitado,
o espelho negro reflete,
são olhos fundos, vidrados, assustados.
Traços de quem já viveu um pouco mais que hoje.
Ensaio um flashback de outros tempos,
em que tudo era mais vivo,
onde espelhos de água
eram mais cotidianos
que espelhos negros de vidro.
Sem sucesso
Horror enauseado,
sou um monstro,
fecho os olhos
balanço a cabeça.
Pensar é paranóia
e eu não quero ser doente.
A boca sorri
uma curva turva.
Sobra ironia,
o reflexo por si só não me diz mais nada;
e não dizer nada é silêncio,
um silêncio solitário,
que faz muito barulho
Ensurdece
Suspiro novamente
Tudo isso é perda de tempo,
os dedos deslizam como uma queda livre
e o botão é apertado,
vem marca fluída,
vem orgia de cores,
tela inicial a postos,
enfim estou a salvo.
Eu como estranho a mim e a tudo que me cerca,
me vejo bem onde não sou.