Hoje o dia amanheceu incrivelmente escuro
Como se a noite quisesse prolongar seu turno.
Achei que finalmente o céu desabaria em chuva,
Toda a chuva que nós estamos precisando.
Mas não choveu. Foi somente uma ameaça.
E o noticiário matutino continua a explorar
Os mesmos escândalos políticos
E as mesmas tragédias cotidianas,
Que a loucura humana provoca todos os dias.
 
Por dois motivos precisamos de um novo dilúvio.
Seja para encher as nossas represas quase secas,
Seja para afogar de novo a humanidade pecadora,
Que depois de tantas tentativas de Deus para salvá-la
Não consegue mesmo se tornar digna desse carinho.
Não aguento mais ouvir falar de tanta corrupção
E de tanta criminalidade impune.
Nem de fundamentalistas da direita e da esquerda
Que só conseguem pensar neles mesmos
E na defesa de suas crenças esereotipadas.
 
Uma carótida entupida levou-me para o hospital.
Veias que entopem são como avenidas de uma
Grande cidade. Obstruções levam ao colapso e Ninguém pode prever as consequências.Pena que Nossos congressistas não levem em conta essa Analogia: obstruem pautas importantes para o país
E não deixam nada andar quando
Não são dos seus interesses.
Para complicar peguei pneumonia no hospital
E agora tenho que cuidar do ar e do sangue
Que respiro, senão, daqui a pouco
Não terei nem outro.
 
O mundo está de ponta cabeça.
Chove tudo em lugar só ─ onde não precisa chover─
E nem um pingo onde a necessidade é premente.
Os paulistanos se afogam nas águas pútridas
Que sobem dos seus rios contaminados
E morrem de sede por falta da água limpa que deveria sair
─ E não sai ─ da boca das suas torneiras niqueladas.
Enquanto isso sai mais impropérios das bocas
dos políticos e dos administradores públicos
Do que água tratada torneiras.
 
 
Tanto faz que Deus queira nos matar de sede,
Ou afogados nos nossos próprios detritos:
Nós somos os únicos culpados disso tudo mesmo,
Porque destruímos nossas florestas e poluímos os nossos rios.
Só peço a Deus que se ele estiver pensando em acabar com tudo outra vez
Para começar de novo, que Ele não procure um novo Noé.
E ao invés de profetas malucos e redentores ingênuos
Nos um mande alguns administradores competentes.
─ E se não for pedir demais ─ alguns políticos honestos e alguns magistrados imparciais.
E por favor, acabe de vez com essas malditas caixinhas eletrônicas que destruíram a nossa salutar forma de comunicação.
Eu gostava tanto daquelas cadeiras na calçada,
á tarde, e daqueles velhos papos descomprometidos