Toda casa tem um cheiro de vida embalada. Tudo bem que algumas á vácuo, quando abre sufocadas. Do teto em neve, descem esquiando os sonhos perolados guardados na ostra triste. Cada impulso, uma dança da cadeira para promover a seleção: toda escolha demanda renúncia. Entre as seduções e resignações, fico nesse jogo da velha moderno, cujo tabuleiro é a vida e sou eu, a circunferência e a Cruz, numa briga acirrada. Se esquiar é uma aventura, carrega também a leveza da infância de escorregar em sobe desce, no parquinho. Nas janelas, o mundo passa feito filme de curtas-metragem, e por falar em curta, é assim a vida, sofrida e de gente aguerrida, correndo atrás do tempo que, passa rasteira nalguns, traiçoeiro ( como exímio jogador que é). Mestre ele, leva e traz, por vezes, se faz capataz, da alma aventureira que assovia uma canção em ritmo próprio: no interior sinto, mas é da cabeça aos pés que ressoa, entoa... Ah, as paredes... Já ouviram tantos senãos e foram testemunhas de despedidas que doem feito navalha em carne viva, sem sedação. Uma fisgada e o suspiro indo embora, como quem perdesse o fôlego. Separam vidas, pessoas, cuidado, envelopam e colocam selo pra entregar à desesperança, lançada ao vento feito bumerangue: quem chegar mais longe ganha. No assoalho, as passadas se entrelaçam no chão de giz imaginário, como se se pertencessem umas às outras, sem nunca terem sido tocadas, impregnadas. Nem sempre os sapatos nobres trazem as marcas mais belas. Nos pés descalços, vi mais sabedoria, a energia que emanava do interior fez dos calafrios um degust de amor, em porções de doce caseiro vendidos em compotas com tampa xadrez e laço de fita vermelha. Pisou, sim! Pisei também. Quem nunca pisou, levante os pés! Tombo certo! Toda casa, nova ou velha, grande ou pequena, tem cheiro de vida ecoando. Essência de flor, ao lado da namoradeira na janela. Toda casa tem caso de amor dentro dela (ou ela, nela). Mas nem toda casa é concreta. Às vezes, cai. Num sopro, num vento louco ou numa aquarela. Pode até cair, mas jamais mata quem entrou nela. Coração é casa, mas também passarela. Pintei de outra cor essa fachada, agora mais bela! Nem todo mundo cabe nela. Quem dera! Toda casa tem uma estrela, mais ainda dentro dela...