Narciso e Eco
Na beira do lago
Como um afago
Narciso buscara
Amor próprio
Talvez tivera já
Em demasia
Seria ele
Tão recluso
Querendo sua própria
Companhia?
Eco surgira
Ninfa da floresta
Por entre as folhas
De um arbusto
Provocara Narciso
E o admirava
Por uma fresta...
- Quem está aí?
Dizia Narciso
Reclamando
- “Quem está aí?”
Eco o provocara
Imitando
A paz de Narciso
Fora tirada
Conforme julgou Diana
Deusa da caça
Invocada
- Deixe Narciso em paz. Ou nas montanhas, te deixarei aprisionada.
Repreendera Eco
A deusa
Mas a Ninfa
Fora evasiva
Obedeceu
Sem obedecer
Voltara ao bosque
Subversiva
- Quem está aí?
Perguntara Narciso
Preocupado
- “Quem está aí?”
Antes que pudesse rir
Num piscar de olhos
Eco já por entre as montanhas
Com seu corpo aprisionado
Narciso retoma sua rotina
No espelho d’água
Novamente se via
Enquanto algo
O atormentava
A dúvida pairava
Seu corpo sucumbia
No lago se afogava
Ninguém o salvaria
- Socorro!
Gritara tão alto
Ao menos alguém respondeu
Ouvira lá dos montes:
- “Socorro!”
Morrera então
Narciso
Afogado no próprio eu
Não se sabe se Narciso
Queria solidão
Se Eco nas montanhas
Pedira ajuda
Ou somente
Repetia
O que fica por entre os séculos
É todo esse
Casuísmo:
Narciso era o belo
E Eco, a levada
Nenhuma alma viva
Questionara a tragédia
Anunciada
Talvez causada pela inveja
De Diana
E seu egoísmo.