Balada da Chuva Poderosa
Balada da chuva poderosa
Nem faz tanto tempo que eu a vi, nem pra sentir saudade deu tempo, o tempo nem me deu seu beijo neutro ainda, e já estou pronto a dela falar, porque era outra vez da sua visita, do seu momento feliz a umedecer os mantos de vida. E que venha, cálida ou gelada, amarga ou insípida, temerosa ou engraçada, de esquerda ou ventania, que enfim venha! Pra a agente ter mais noção de natureza, pra gente saber cultivar coisas que não vem pro mal, pra gente saber que nem tudo vai ser sempre igual, pra gente saber que alguém distante é que sofre, pra gente saber que Deus existe!
Contando gotas da janela, esperando ela passar, pisando numa poça pra ver a lama inundar o rosto... Passa-se a mão, e por trás dela está escondido um sorriso, um valoroso “quero mais”, pegadas, pegadas, a sua marca só não vê quem realmente a ama de verdade!
E do que eu vou falar sem repetir os versos? Como vou declarar esta paixão sem dizer que já tive medo? Não falha, ela não falha não, primeiro no seu passo a passo trazendo inconstante incômodo pra quem necessita oposto, soprando as nuvens no seu andar pomposo, de aquarela colocando um cinza amargo sem buracos nas alturas...
“Você aguarda um instante?”
“Sim, aguardo!”
De uma vidraça frágil, massa transparente de orgulho, desaba arregalada, de testos castanhos, fonte de vida longínqua numa queda viva e bruta, incessante, que faz sua ‘baladinha’ molhada tocar no ritmo das pegadas frenéticas que fogem!
Que ódio dessa gente burra! Que raiva dessa prosa em pé!
Eles não sabem que em qualquer tempo, minuto, ou salivar de empáfia minha mãe se joga num salto alto de batom colorido e toque eclético?
Por que não carregam seus guarda-chuvas pretos, ou estampados de ‘Madonna’? E também não sabem que as árvores são fiéis aos gritos que delam escapam numa concentrada brincadeira alegre?
Que raiva... Que ódio!
E não finjam que são indiferentes, porque por bem menos motivos, por matéria morta e seca, ao cubo se elevam num fechar de caras!
Que raiva... Que ódio!
Imprecisa, se vai quando bem entende, porque nela ninguém manda, apenas procria suas larvas temporárias, rachando as coisas mais marrons sob si, e escorregando de leve, suave como num passo de dança (ela ensaiou milésimos para decora-los), esguia-se, muda a expressão numa boca sedenta. Depois nem mais ‘ritmiza’, deixando sozinho e fraco quem já amou.
Desgraçada! Sem coração!
Mas foi bem clara quando disse que não tinha, não mandou enfileirar paixões, frenetizar canções em seu nome. Foi feita pra criar, pra cair, pra a agente ter mais noção de natureza, pra gente saber cultivar coisas que não vem pro mal, pra gente saber que nem tudo vai ser sempre igual, pra gente saber que alguém distante é que sofre, pra gente saber que Deus existe! E só, sem sal e nó, entre nós e si... E só sem os seus!