Adrian, O Flautista
Ainda hoje, nestes bosques, vales, luares e florestas
Existem os contos sobre a vida de um bravo homem
Que conheceu terras tão distantes e longínquas
Que são desconhecidas até mesmo pelos anciões da nossa tribo
Há milhares de anos atrás.
Com muito cuidado, ele pegava uma flor
E dele os pássaros não fugiam
De Reino em Reino
Cantava suas músicas e recitava suas poesias.
Entoando hinos em nome dos nossos Deuses
Palavras bem-aventuradas profetizadas para as próximas gerações
Histórias sobre fadas, elfos, homens e anões
Memórias arrancadas das profundezas da nossa natureza primitiva
Assim, ele cumpria sua sentença
A qual foi proferida antes mesmo dele nascer
Fadado a esperar pelo tempo que, enfim, ele seria esquecido.
Esse tempo é conhecido e não se pode evitar
Nas minhas noites de sono, ainda criança
Eu ouvia uma flauta que vinha dos pinheiros
Lá longe, nas terras do meu pai
E ele dizia:
"Não dê ouvidos, me escute, não dê ouvidos!!!
As crianças que foram até lá
Nunca mais voltaram para nos dizer o que aconteceu."
Anos se passaram e com eles as histórias se inverteram
Adrian, meu filho, sempre brincava perto dos pinheiros
E isso me fazia pensar nas palavras do meu pai
Mas até então, a flauta não tocava mais.
Em seu leito de morte, meu pai me conta uma última história
Mantendo, assim, a tradição do nosso povo nos seus últimos instantes
Ele passou a recitar, com muita calma e sabedoria:
"Filho, a floresta tem vontade própria
Olhe para nós, tão previsíveis e limitados no tempo
E ela permanece aí, com os seus pássaros e encostas
Sendo assim, se somos seres livres, por que ela não seria também?
Tenha cuidado com o Flautista na floresta."
Levando em conta que há muito já não se ouvia mais nada vindo de lá
Eu não considerei, mas respeitei suas palavras.
Já entrando na terceira idade, certa noite acordei muito assustado
Não podia ser, há tanto tempo, por que logo agora?
Por que de novo agora?
A flauta estava tocando.
Corri até o quarto de Adrian, mas ele não estava lá
Acendi os lampiões ao redor da casa
Empunhei minhas lanças e tochas
Andei rente aos pinheiros
O fogo iluminava bem, mas não consegui nada.
Essa foi a última noite de Adrian em nossa casa
E agora, prestes a conhecer os salões etéreos das nossas divindades
Diante do meu segundo filho
Eu lhe conto uma última história:
"Liam, ouça bem o que tenho para lhe dizer
Anos antes de você nascer,
O destino passou por aqui
E selou o caminho das pedras para Adrian, seu irmão.
Mas isso só acontece com quem conta a história,
Adrian era parte da floresta
E por definição,
Ela não abriria mão dos seus poemas e poesias."
Quando Liadan morreu,
A flauta tocava na floresta.
Uma das músicas mais tristes que Liam viria a ouvir por toda a sua vida.
Agora,
Ao fechar os olhos,
Você poderá ouvi-la também.