“Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem...”
E assim é a inexorável Eternidade:
A lavrar a sentença de morte contra o seu legítimo filho:
O tempo
Mas, por quê?
Seria, pois por maldade?
Seria então por inveja... contra o próprio tempo?
Viver no que se trafega... aqui
E nele a se passar... d'uma margem par'outra
Oh! E quantas moedas falsas a passar em nossas mãos
Pelo que as agarram d'início pelos olhos que as cobiçam
Do sangue a que se transpira pelos poros das mãos que as pegam
E os alheios olhos a passarem... com a navalha d'ódio e da inveja
Visto que não as têm consigo... as doiradas moedas d'outrem
Ai! Mas que há neste efêmero tempo que em tal grau nos atrai?
Ao que tanto passa à espada as vidas afora.... sem piedade
Quem sabe porque miseráveis são estas almas... frívolas e cegas!
Porém, ao que a vida o permite, não sei por quê, somente... no tempo
Do qu'então na memória apagado o será
(visto que, à luz da Sabedoria, o deverá ser)
Do brilho d'outrora a que certamente haverá de s'esconder
Quais dissipadas nuvens a que num período encantavam nossos olhos
Dos que, cegos de amor por elas em tal grau s'estavam
Ah! Tempo... tempo... tempo... que nasce... e que morre... no tempo!
E deste modo deve ser
E por quê?
Se satisfazer a alma o pudesse o tempo (ai! que bom não o poder!)
Decerto não ansiaríamos de form'alguma pela Eternidade
(s'é que um dia assim o fizemos!)
E, portanto a Eternidade se vinga contra o tempo... seu próprio filho
A não permitir-lhe que a ninguém por ele se satisfaça!
A querer que a todos por ela então a anseie... e a ame
Mais que a tudo o que s'existe... no tempo... e no mundo
(que um dia - em algum tempo - o será também consumido)
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07 de junho de 2018