“Se não fosse a vida ali, pedindo arrego, a coragem talvez lhe faltasse. Não era uma fuga implacável. Perdeu seus sentidos querendo encontrar sua esperança, não obstante, fossem os sentimentos os seus maiores vilões. Deu cabo, sem medo. Aliás, foi o único suspiro de lucidez e coragem, no intervalo entre o insuportável e a esperança. Não se mata aquilo que já morreu. Sacrifica-se o que está lhe matando. E ele nem queria morrer. Apenas, acabar com a dor, que não tinha filtro e o estoque abarrotado. A dor era ele, ele era a dor, por que não apagá-la?”
Um dos mais famosos escritores brasileiros na atualidade, Augusto Cury, que estuda a mente sob outra ótica (odiado é amado na mesma proporção) alerta para uma realidade iminente: “ O suicida não quer morrer, quer matar sua dor.” E esta vertente tem sido utilizada de forma incisiva para contribuir para políticas sociais que procuram desmanchar a previsão científica de que em 2020, a depressão atrelada à suicídio será a segunda “causa mortis”.
Todos os dias, centenas de pessoas tentam contra a própria vida. A maioria o faz de forma desordenada, engrossando as estatísticas, são no mínimo 5 tentativas em média para a conclusão do feito. Se fizermos uma análise fria e calculista encontraremos ao nosso redor dezenas de pessoas que foram vítimas de si, neste doloroso e triste diagnóstico.
Por aqui, não diferente, hoje uma mãe enterra um filho. Uma irmã, um irmão. Um amigo perde a esperança. No olhar triste de uma família amargurada está também a dor do mundo. Dessa vida atribulada de faz de conta, onde ter é mais importante e o ser é acessório. Onde a corrupção deslavada não é penalizada. Onde a emoção não é domada e surge imperiosa a fera interna para dar coragem àqueles que perderam a candura pelas chibatadas da vida.
“Calma menino, franzino. A vida é um livro de capa dura. E rapadura é doce, mas não é mole não! Pra entrar no coração do outro não adianta tentar arrombar ou quebrar a porta. Pra quê pressa? Não sabemos ao certo que dia a dona morte virá com sua malinhas, por que atazaná-la? Dor de amor, cura. Dói feito batida do mindinho em cantoneira ou feito cálculo renal, mas passa. Dor de não ter de onde tirar o que viver, é feito brasa, mostra que somos pequenos, minúsculos, mas temos amigos no entorno. Quem verá os que amam em necessidade e não as suprirá? Calma aí, que o coração é trapaceiro, mas jamais feito um cangaceiro. Calma menino, que o tempo vai limpando a área. Vai também recompondo a natureza. Pesca esperança no mar das ilusões, qualquer coisa serve para ancorar um navio depois de bater num iceberg. Não tenha medo de lutar contra a mente arbitrária e povoada de pessimismo parasita. Tem terreno que erva daninha rouba e faz morada, mas tem menino forte pra extirpá-la. Ah, menino. Queria ter te dito isso. Tão doce, tão pequenino. Tão amado, mas passarinho. Quando rompeu sua gaiola, caiu. Não sabia viver em queda livre, asa quebrada. Voar acabou! A dor da asa passou. Mas com ela, você...”
E no conforto do abraço, sem distinguir contudo, quem precisa mais dele, um ninho. Passarinhos não perdem as cores, só trocam de penas. Pena! Há penas no chão... O vento soprando, dissipando. Voou!