TRINCA DE AMOR

Trinta anos se passaram

Tantos planos inconcretos jazem

Como cubos de gelo se degelaram

Pra que neste espaço entre as águas, se rebatizem...

Quando estou sozinho só consigo dormir

Quando já não me pertenço mais

O tempo é elástico, mais não sabe repartir

As lembranças secas terras dos nossos ancestrais...

Trinta anos de ausência

Quantas histórias redesenhadas

Borboletas desgrenhadas

Árvores balançando a queda copiosa

Na resiliência resignada das folhas silenciosas

Trinta anos se passaram

Será que fico deste lado que já passou

Ou fico deste outro lado

Esperando mais trinta pra passar???

Só as raízes permanecem adormecidas

Mais ainda vivas e pulsantes quais cicatrizes

No vão incrustado da terra incruste

Enquanto ossos se enterram

Brotam da seiva lacustre

A esperança primaveril dos dias friorentos...

Trintas anos decompostos

De um lado refazendo rostos

E de um outro plastificando a sutileza

De novos odres se alocando junto a mesa

Tempo, lacuna umbilical

Esta cicatriz está sempre aberta

O amor é uma crisálida, se transforma

E as vezes se faz morrer ciclicamente

Para noutro ser se perpetuar...

Quantos ares perdidos

Quantos seres fundidos

Trem que sobe trilhos levando vivos

E trazendo os mortos e feridos....

E o tempo passa

Cavalo de raça

A crina solta rente ao vento

E o rabo sempre espanando o poeirento assento

Pra que tudo se renove a contento

São coisas do mundo

Há paz que duram trinta segundos

E guerras frias que cem anos é um silencio profundo...

Tudo na vida se alimenta de alguma coisa

Que não vemos, nada fica, tudo se passa

Só o amor sobrevive

Ele não tem dono

É como o sono

Sempre acorda...

Trinta anos, quantos botões sem casas

Quantos pássaros sem voar

Quantos trilhos sem vagões

E um fio do destino muda as estações

São tantas noites escuras segurando as ventrechas

Que até as velas escureceram na igreja

Onde estávamos que todos eram vertiginosas ondas

Sondas que nos alimentávamos por saudades imersas

Conversas informais que nunca foram trocadas

E sequer sublimadas ao ponto de esquecer que existiram...

São tantas noites escuras segurando na mão, pirilampos

Na esperança de ver a luz do sol

Para nos aquecer novamente sem os grampos da memória

Que se houver cobrança nem acontecerá o arrebol

Muitas fantasias e fantasmagóricas alegorias

Tudo e nada se confundem é batendo no tambor

Que se extrai o mais impertinente batuque

Assim acontece com os grandes magistas

Só o momento é real e o que passou é truque

Trinta anos, se passaram

Não consigo compreender

Como estive preso tanto tempo amando alguém

Que se amalgamou no meu ser qual crosta

Nas minhas costas, como limo na pedra

Num tempo de tanto amor, ter me perdido

E a perda é tanta que nem o paraíso

Me dão, pois que sede tenho

Mais não a mato com limão

Resta-me ou basta-me um colo

Um carinho, uma absolvição

Não confessarei meus pecados

Pois que pra ele não há solução

Tudo reluz, agora, estou aqui

Tentando seguir meu caminho

A laranja quando ao meio é cortada

Nunca mais pode ser colada originalmente

Nem as almas que são gêmeas têm nome

Nada é definitivamente igual

E depois de trinta anos

Quando jogado na água só o sal é igual... Quando some

Jasper Carvalho
Enviado por Jasper Carvalho em 05/06/2019
Reeditado em 05/06/2019
Código do texto: T6665229
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