Reflexo
Frente ao espelho manchado
obnubilado,
por suspiros infames alcoólicos de uma respiração pesada
de um fim de domingo à noite,
não vejo minha face!
Mas sei que estou ali...
Quanto mais me olho
menos me vejo
Mas sei quem sou!
Florescem sentimentos absurdos
que transitam
entre total estranhamento e certeza absoluta
espero que surja ali uma face
um fato
continua obnubilado
percebo que saber quem é
não é garantia de ser
Cotovelos na pia, mais acuidade visual,
imagens ausentes insistem
em dar um tom de suspense dramático ao óbvio
sim, eu estou ali
ou melhor, aqui
O objeto sempre está para além da consciência
que se tem dele
concordo comigo
ensaio um aceno com a cabeça que não vejo
as mãos tocam os olhos
são como afagos esperançosos
quem sabe seja biológico! Seria um mal menor!
Nada acontece
Uma risada no canto da boca sela a ironia
levo as mãos ao espelho
com a água turva da pia
e lá está ele no reflexo
parado
estático
imóvel
Ninguém