Foi se assanhar com a saudade e anda pelos cantos da casa como quem perdesse o rumo (e perdeu). Saudade é feito calça apertada: se senta machuca, se anda espreme, se para, há sensação de dormência e as costuras afrouxadas ficam visíveis. Saudade é doce de leite anuviado no canudo, na primeira mordida o sabor completo, depois um vazio, oco. Cadê o docinho que estava aqui? Se fosse a saudade uma cor, transparente seria, pra refletir do outro lado as ondas de coração pulsante em dois tempos e que bate feito bateria de escola de samba, em dia de desfile de carnaval. Magistral! Pudesse ser a saudade pintada, seria um ponto negro num quadro branco envolto em imagens captadas pela lembrança em forma de oração e gratidão. Ah essa saudade sedenta, seria vatapá com pimenta pra quem nunca experimentou, a surpresa. Saudade é uma espécie de tormenta, quando bate, traz dor, quando mata, apagou, quando sente, escapou. Beija-flor jamais seria, pois saudade é tirania, mãos para cima, assalto de amor, Uirapuru seca essa dor. Saudade é paz ciente, guerra fria consciente é cheiro de alecrim em flor. Saudade é letra cantada, vira som numa bela toada, saudade de verdade é prego na sola, pisou sangrou. Saudade é professora da escola, é pai, é tio, é avô. Saudade é jogo de baralho, carta na manga ficou. É toalha felpuda que nunca enxugou. Se fosse comida chocolate caia bem, a porcentagem do cacauvdefiniria a intensidade. Saudade é só saudade, o choro no samba cantou. Saudade só não é standard pra quem nunca amou! E se assanhando com a saudade, jamais a perdeu um só dia, porque saudade é a única vontade que do coração não se esvazia. Saudade dói, todo dia. É receita de bolo de padaria. Saudade, saudade, Oh menina: senta aqui e fica quieta, sapeca.