Na tentativa de aliviar o coração fiz nele uma carícia. As mãos calmas, embora trêmulas, deslizavam num movimento circular como se encontrassem o órgão em tamanho real e o envolvesse numa redoma de vidro imaginária. Ele parecia ter mudado a rotação por uma pane, quiçá? Taquicardia é recado mal criado enviado a um remetente que sufocou as palavras e as colocou em segundo plano, esperando um corretivo. Por segundos, também foi contabilizando na calculadora da emoção apagada, sem dígitos. Revoltadas, quem sabe, as palavras guardadas, promoveram uma revolução por dentro. E a batida, ora extravagante, ora sofrida, parecia jogar como os escravos de Jó: Tira, põe! - Por favor, deixa ficar. Ofereci ternura em tigelas fundas, respirei intensamente devolvendo o ar surrupiado nos torneios de superação que promovi em mim, com a ingênua ideia que dava conta do recado, autossuficiência do ledo engano. A veia que dançava sapateado toda vez que a pressão aumentava, num movimento desordenado, por causa de um conflito entre a sistólica e diastólica, carregava a cachoeira de águas rubro que escorregava na liquidez, tentativa de subir ao pódio (pra que tanto ódio?). Na arritmia do coração o suspiro endossava à alma, como se pudesse ficar livre, sem pagar a sentença. O coração, embora assustado, segue renovado como quem recebeu um prêmio, porque dentro dele mora seu maior tesouro e nele ninguém ousa tocar, exceto a música que embala a sua dor feito balanço no seu parque de emoções. Abarca coração sisudo, detentor do mundo, feito colo de mãe. Abarca coração aberto, sei que o amor lhe é certo, cumpre bem sua missão. Abarca coração, contudo, não me tome do mundo, sou apenas seu súdito procurando um chão. Abarca coração, a barca... Concede-me essa dança?