Minha nega
Gosto de tu minha nega. Tudo que Deus em tu feis. O sorriso, a cova no queixo, esses cabelos negros e olhos de estrela. Gosto de tudo, sem pôr nem tirar. Essa obra prima, Vinda do céu. Que nem de luar ilumina mais que seu olhar. Inda outro dia, Um sujeito enfezado. Desses que inté o diabo bate continência, Gritou pra todos os cantos. Que Deus errou a mão, Quando feiz o sertão. " Como pode Deus ter feito essa secura, Que inté praga morre antes de vive" Deus errou a mão, Repetia o sujeito aos gritos, Com do ar do seu pulmão. Veio o padre com ele falar. Teve jeito não. O padre foi-se embora, E a praça vazia ficou. Noutro dia, Sem que ninguém soubesse como, O sujeito foi embora da vila. E dele nunca mais nada se soube. Uns falam que ele morreu, Outros que sumiu de louco que ficou. O fato, Minha princesa. É que todo dia ao céu agradeço. Porque ter você ao meu lado, Meu faz o homem mais feliz desse sertão. Sei que sou sujeito desajeitado, mas o quê posso fazer, sou gente de terra, gente desse chão, sou filho de tantos outros filhos, que já nem sei mais donde vim. Sei só que aqui me sinto parte desse pedação de terra. Inté tem gente que diz que nem Deus sabe desse lugar, que pode ser isso, acho que pode, mas, só digo que se Deus não sabe nadinha daqui, eu sei. Aqui me crio e aqui pereço, inté o dia de eu ser terra também.