Duplicidade dos beijos
A gente encara tanta coisa dura, tantos desejos incontroláveis que nos empurram a abismos. Eu tenho medo de uma coisa específica, sabe? Tenho medo que de repente, longe de tudo que seja puramente sóbrio e concreto, algo me sugue de prontidão, me afaste de amores confortáveis e me leve a espinhos dolorosos.
Eu aprendi com meus colegas e familiares que eu não sou uma válvula viária que liga às ideias ao coração, ou uma árvore centenária que resiste a mais de cem anos, resiste a tempestades e ao fogo! Eu aprendi que sou um menino com complexo de positivismo ligado a lembranças boas da infância, mas, que não sabem sequer esquentar os olhos quando esses são úmidos e sem sabor diante das flores.
Eu nunca quis transcender nossos lábios, menina.
Mas se somos mesmo uma coisa derivada de poeira e rastros de Deus, quero servir a poesia numa cesta de doces, e aprendendo tudo como aprendo, quero que coma os doces antes que minha figura ingênua e primitiva os estrague, e os amargue.
Caso você seja o reflexo do espelho, menina, me ensina como enrolar os cachos e pintar os lábios, porque não há tempo quando não se enxerga o espaço dos braços; e eu a digo: Me empreste o lado bom desse coração que talvez seja duplo e vermelho. Que talvez seja bom.