ESTADIO DE FUTEBOL II
Queres te ver ou sentir-te igual ao mundo
Sem patente, sem parente, zona norte ou zona sul
Teu viés é apenas curtir os paralelos mais profundos
Tua alcunha é torcedor e como tal és igual a todos
Ali onde todos os desconhecidos se conhecem...
Naquela panela de pressão que é o Estadio de futebol
Todos se locupletam, são árbitros, atletas, e bêbados
Tudo se governa pelo respeito como a sombra tem do sol
O gol este fantasma é tão intenso
Como o gozo que a aranha sente
Ao inseto quando balança a rede...
É tão forte como o é tão imorredoura a esperança
Tão leve que neste instante a torcida dança em seu dulçor
Sacoleja e voa como as nuvens deslizam por um céu furta-cor
Parece que todo o escoadouro da cidade
Vai pra lá, tudo se mistura, fumaça, sons, grunhidos
Cores, refletores, sorrisos, olhos ávidos pela conquista
E derrotas a perder de vista...
E as nuvens no céu deslizam
E se harmonizam como as imensas
Fumaças dos inúmeros churrasquinhos no espetinho
Que se volatizam pelo chão em denso caminho
E a elas se camuflam e se irradiam com os fogos de vista
Que já ribombam no azul celeste, como um arrastão
Cheiros, cores e sabores que a fome apetece
Confessando que tanto a derrota quanto a vitória dão fome...
Um amotinado de gente crispada, amontoadas umas as outras
Como cachos de uvas esmagadas para tirar delas o melhor sabor
Vão-se espremendo e solidárias umas as outras
Se enobrecem diante da marca que representam
Seu time de coração que muitas vezes pode estar
Na baixa ou na alta estação...
Tudo se concilia alto e baixo clero
Vendedores diversos, ambulantes
Catadores de cascos de latinhas de cerveja
Que é em si a grande armadura dos pobres que por ali transitam...
Cavalaria com seus equinos intimidadores
É a polícia mostrando sua força
Confinando-se uns aos outros como um casco de tartaruga
Faz parte da estratégia sua rota sem fuga
Enfim! Todos se respeitam e se enaltecem e só a derrota
Os faz lembrar que dias melhores estão por vir
Na poesia de um polvilhar de um novo dia que brota
É quando a rede da trave provoca o efeito estufa
Que o coliseu entra em erupção
Quando todos estão no mais alto grau de euforia
Por dentro e por fora quase nas nuvens vaporosas do éter
Que o gol condecora todos aqueles soldados
Que fazem uma volatização verbal que chega aos deuses
E então os deuses se acordam dos píncaros
E marcam uma nova partida de futebol
Porque sabem que precisam se alimentar desta carniça
Tão arraigada ao chão e tão alimentada pelo sol
Para nunca perderem-se deste hálito que os alimenta
E os mantem eternamente vivos...Como um gooolllll!