"OURO" LÍQUIDO
A estrada era infindável...
Sol escaldante, boca seca,
Olhar turvo cansaço absoluto.
Ouro líquido era desejo.
Tal e qual a paixão dum beijo
De um romance impoluto.
As pernas trêmulas em cada passo,
De um lado, as pedras “acenavam”,
Do outro, um descampado escasso.
O chão pesado era pó
A garganta dava um nó
E eu ali, só.
Suor magistral
Era puro sal!
Encostei os lábios...
E desmaiei.
E quando me acordei,
As nuvens deram sinal...
Mas no final,
Secou!
Após dois dias andando...
Minha boca era um deserto
Então lembrei por certo
De todos os momentos
Em que sem quaisquer sentimentos
Desperdicei um bem tão precioso
E tão valoroso,
Mas que pensei
Nunca acabar.
E nesta estrada
Que tanto andei,
Não mais encontrei
O que desperdicei.
A água, o ouro líquido,
Que hoje, tanto desejei.
Ênio Azevedo.