O REENCONTRO COMIGO

A apresentação começa com um tom nostálgico à minha infância. Uma infância bem vivida e repleta das brincadeiras saudáveis. Naquela simplicidade de uma criança, num coração sem orgulho que se abre ao amor e ao perdão tão prontamente.

No ano de 2018, já com diversos pensamentos escritos entre textos e poesias escritas com simplicidade e puro coração, me propus revisitar um caderno antigo, empoeirado, já com marcas do tempo entre o mofo e o amarelado de folhas antigas. Um simples caderno escolar, personalizado com desenhos e colagens - novidade pra mim que sempre teve contato com os desenhos desde a infância. O fato é que aquele caderno me trouxe lembranças de uma versão adolescente que vivi. Uma transição que diferentemente da maioria dos adolescentes foi mais tranquila, serena, leve. Logicamente enfrentei meus dilemas e crises existenciais, mas foram circunstâncias que não tiraram minha estabilidade emocional. Lendo aquelas poesias de um adolescente, e notando o estado daquele caderno, comecei a digitar cada um deles.

Minha ideia inicial era simplesmente "digitar e corrigir a estrutura de alguns e descartar os piores". Sinceramente, acabei descartando alguns... suas correções seriam tão drásticas que perderiam o sentido essencial - e precisavam dessa correção. Para corrigir dessa forma, não seria mais uma poesia do eu adolescente, mas do eu adulto. E aqui eu tive um choque: volte seu olhar para seu eu adolescente ou do contrário descartará todos os seus textos de adolescente. E assim entendi que mesmo alguns poemas e poesias parecendo tão bobos, foram partes de mim. São os primórdios da minha escrita.

Assim como os primeiros desenhos são igualmente importantes para mim. Nem sempre desenhei tão bem e eles não saíam tão bonitos, mas são igualmente belos pois surgiram da minha infância e são a minha essência. São estes desenhos que me remetem a belas lembranças sentado à mesa com meus pais e eles ali me observando e incentivando desde cedo, enxergando potenciais e dando direcionamentos pra que eu ampliasse minha visão e tivesse condições de tomar decisões e fazer escolhas conscientes.

Fazendo essa reflexão, me dei conta do quanto todos nós em algum momento do nosso dia, nossa semana, por um período da vida esquecemos como foi bom ser criança e boa parte das nossas angústias, dificuldades, complexos e feridas são resultados de um orgulho tão adulto que não enxerga a simplicidade e humildade de uma criança a lançar um perdão, esquecer tão rapidamente uma ofensa e ver coisas tão "simples" com um olhar puro e verdadeiro. E isso me levou a Mateus 18, quando Jesus Cristo diz que devemos ser como crianças para conquistar o Céu. E de fato devemos ser como crianças na essência. Crescer, amadurecer, se vestir de responsabilidades, construir um legado, mas jamais abrir mão da nossa essência, de um coração puro, leve e cheio de amor, livre do orgulho e do rancor. Como adultos, somos mestres em complicar demais a vida que poderia ser mais simples e mais leve.

Voltando às poesias de um adolescente, percebi que apesar do caderno velho e gasto, marcado pelo tempo, aquela leitura me fez lembrar a importância de manter estes escritos, pois representam circunstâncias que me marcaram e me formaram. As paixões, as desilusões, as frustrações, a euforia, um coração desejoso e sonhador. Me fez retomar um ensinamento de Jesus Cristo tão importante para alcançar a vida mais leve que tanto buscamos. E aquele choque que tomei quando julgava meus textos, me levou a "salvar" meu eu menino nestes singelos registros. Hoje, crescido, adulto, maduro, cheio de novos sonhos, preenchido de responsabilidades; mas a reflexão feita ao passar cada página daquele caderno, me leva a voltar à minha essência hoje muito mais do que antes o fazia. Jamais se esqueça da importância de manter vivo dentro de si a criança que um dia você foi. Essa energia, alegria, sonhando grande. Não deixe que a neblina das dores e dificuldades te leve a se perder pelo caminho. O caderno já se perdeu, o tempo o levou, mas os textos permaneceram.

Fazendo uma humilde analogia com o caderno, ele representa nossa vida. Os anos vão nos marcar, as dores e as adversidades vão nos deixar sinais, mas jamais se deixe perder uma página, faça valer seu dia, faça valer cada página e construa em cada linha um legado. Felizmente aproveitei bem minha infância e venci a transição da adolescência sem grandes transtornos. Hoje adulto, sou grato pelo que passou, pois cada experiência me trouxe onde estou. Tenha um coração grato, sorria, se alegre. Que estes simples versos que se seguirão te arranquem sorrisos. Sorrisos bobos te levando à sua essência, sorrisos de alegria e gratidão se reencontrando com você criança e fazendo as pazes com você adolescente. Que as marcas da vida que porventura te impedem a harmonia com um parente, retomar a paz liberando e/ou aceitando um perdão, que nada disso seja um impedimento. Que nesse reencontro com suas memórias e lembranças, você reencontre o caminho da simplicidade e o amor de criança e viva. Faça valer cada dia, pois o tempo é implacável e a vida passa.

[escrito: 20-05-2019]

Altillierme Carlo
Enviado por Altillierme Carlo em 20/05/2019
Reeditado em 17/09/2019
Código do texto: T6652242
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