Todas as coisas que eu não disse
Todas as coisas que eu não disse acharam jeito de ser, mesmo assim. Algumas viraram dores crônicas, outras esquecimento. Umas outras se alojaram em cantos ocultos da minha mente, outras poucas, verso, pintura, escultura, arte abstrata. Todas as coisas que eu não disse tornaram-se alimento pra minha insônia, acordes em madrugadas solitárias, poemas nunca publicados, choro em momentos inoportunos.
Oxalá toda coisa que eu não disse tenha, provavelmente, sido dita por outrem, pois não é o silêncio, bem necessário, sinônimo do não dito.
O que eu não disse ocupa espaço, tanto quanto esse corpo no qual habito. E há tantas formas de ser quanto de dizer, independente do que minha visão limitada me permite concluir.
E é por isso que eu “respeito muito minhas lágrimas, mas ainda mais minha risada”. Meu riso é maré vazando, ciente de que os ciclos se renovam, com pressa ou sem ela, assim como todas as coisas que eu não disse, ainda assim, acharam jeito de ser.