"PROGRESSO" - Texto em 2 tempos

I - Local "x", Primavera de 1650, fim de tarde

O Sol desce no horizonte,

esparsas nuvens claras

são trespassadas, numa doce cadência,

por brilhantes raios de luz.

Um regato corre de mansinho,

água borbulhante de vida,

em que cintilam luzes de várias cores...

Enquanto sons de Vida,

de muitas vidas, se escutam.

Pássaros livres vão e vêem,

seus trinados enchendo os bosques,

enquanto num imenso tapete verde,

salpicado, aqui e além,

por pequenas sardas de muitas cores,

flores... animais diversos,

aqui um rato, além uma doninha,

mais ao fundo duas lebres

numa corrida sem meta...

Animais diversos, vivem e morrem,

mas a Natureza, essa...

Está plena de vigor

em todo o meu planeta!

II - Local "x", Primavera de 2050, fim de tarde

Os relógios marcam, exactos,

mais um fim de tarde sombrio.

Algures no céu há, certamente,

um pôr do sol fugidio.

Seria belo vê-lo, mas as nuvens...

E daí, estas nuvens de fumo cinzento,

quando não negro ou rubro de sangue,

são causadas por motivos úteis, necessários!

É o Progresso!

E a Civilização!

Nada de estéreis lamúrias!

Deveríamos festejar, dia após dia,

este advento do Homem Moderno!

Por toda a parte,

em toda a nova selva

(de concreto e betão)

uivam buzinas...

(máquinas, veículos, Progresso)

uivam sirenes...

(fábricas, linhas de montagem, Progresso)

Sons de vida humana,

sons que assinalam a vitória

(Sem perdão ou remissão)

do Homem sobre a Natureza!

(Progresso!)

O planeta não morre!

E que morra...

Há outros agora,

há naves satélites, foguetões!

(Progresso!)

E para os que assim não pensam:

MISSEÍS!

PROGRESSO???