Maquinário

Nesses silêncios barulhentos

eu morro pedaço por pedaço.

Nos morros que preciso escalar

para manter a vida no padrão

Nas escalas e prumos que balizam

e moldam de fora pra dentro meu eu.

Nos gritos presos e enformados

no tamanho exato para a armazenagem.

Também no medo de tudo aquilo que não é tátil,

retrátil, retraio-me, retrocedo.

Mas é claro que esse medo não é meu.

Foi amarrado ao meu corpo quando nasci.

Pouco a pouco fincou raízes em mim

e me invadiu por todos os poros e orifícios possíveis.

Guiando minha existência como algo teleguiado,

controlado, manipulado.

O peso desse maquinário é tão grande

que quase não me deixa erguer a cabeça

e enxergar algo além do mesmo raso de sempre.

Ah, mas a vida encontra um jeito!

Ela, que apesar de tão pisada, sufocada,

massacrada e lançada no fundo do ser.

Tem força suficiente pra lutar

com esse monstro estranho pelo controle.

A luta pela minha natureza, pela minha humanidade apagada

e encoberta pela fumaça da civilização.

E a vida se manifesta na vontade de criar,

dançar, cantar, pensar

E me lembra que não sou objeto objetivo,

produto produzido pra o consumo

Mas sou alma transbordante de emoções e beleza.

Subjetivamente sem razões ou motivos concretos.

É inutil a procura de sentidos.

Dan Rudá
Enviado por Dan Rudá em 15/05/2019
Reeditado em 26/11/2023
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