Maquinário
Nesses silêncios barulhentos
eu morro pedaço por pedaço.
Nos morros que preciso escalar
para manter a vida no padrão
Nas escalas e prumos que balizam
e moldam de fora pra dentro meu eu.
Nos gritos presos e enformados
no tamanho exato para a armazenagem.
Também no medo de tudo aquilo que não é tátil,
retrátil, retraio-me, retrocedo.
Mas é claro que esse medo não é meu.
Foi amarrado ao meu corpo quando nasci.
Pouco a pouco fincou raízes em mim
e me invadiu por todos os poros e orifícios possíveis.
Guiando minha existência como algo teleguiado,
controlado, manipulado.
O peso desse maquinário é tão grande
que quase não me deixa erguer a cabeça
e enxergar algo além do mesmo raso de sempre.
Ah, mas a vida encontra um jeito!
Ela, que apesar de tão pisada, sufocada,
massacrada e lançada no fundo do ser.
Tem força suficiente pra lutar
com esse monstro estranho pelo controle.
A luta pela minha natureza, pela minha humanidade apagada
e encoberta pela fumaça da civilização.
E a vida se manifesta na vontade de criar,
dançar, cantar, pensar
E me lembra que não sou objeto objetivo,
produto produzido pra o consumo
Mas sou alma transbordante de emoções e beleza.
Subjetivamente sem razões ou motivos concretos.
É inutil a procura de sentidos.