MEIA PORTA ABERTA
Disseste-me por toda a infância "fecha a meia porta, minha filha."
Mas não tinha meia porta, mãe. Havia uma porta inteiramente aberta. Fechava-a ou a deixava aberta?
Se a deixava entreaberta o vento voltava a abri-la por completo e então tu voltavas a dizer-me "fecha a meia porta, minha filha."
Se a fechava, a luz do sol não entrava e tudo se tornava escuro. Tu não enxergavas o passo que dava a agulha, e então te ferias, enquanto bordavas com alegria o teu manto. Eu não queria que te machucasses, mãe. Eu esperava que tu dissesses "acende a lamparina, minha filha." Ou que passasses com tua cadeira de balanço, sentasses a calçada e bordasses tranquilamente o teu manto.
Assim, à boca da noite tu voltarias a estar comigo, sã e salva, e só então fecharíamos a porta completamente.