Trago verdades inscritas (tatuadas pela memória) no papel de pão que as manhãs traduziam como um presente, na chegada tão aguardada. Regados à pães frescos, estavam os sentimentos, dispersos num riso incontido (solto e livre) e num pote de creme vegetal, onde a espátula desenhava uma cratera, sem fundo, mas com um sentido. Um coador de pano, fazia do momento uma espécie de stand by e a água doce da chaleira, escorria devagarinho, criando caminhos sinuosos de cor caramelo, deixando vazar pelos cantos, na pressão do descuido, uns grãos do pó que trazia a fragrância mais invejada por quem jamais dividiu um café, depois da cama. Respirando o ar que trafegava entre uma boca e outra, à espera de um toque nos lábios, um sussurro de bom dia, fazia valer a lembrança de noites inteiras em estado de euforia, a intimidade extrapola a relação do corpo pra ir fazer casinha na alma terna, cujo travesseiro se alinhava à maciez dos gestos. Nas mãos que se encontraram, mais de uma vez, pra partilhar o sabor diverso dos alimentos à mesa, também estavam os amores que saltavam os poros, extrapolando: suor e frieza. O café saia e com ele o cheiro de um sonho que começou quando o relógio despertou para a hora do encontro. Amores também crescem em tigelas de cerais com leite. Senão em asas de xícaras de café...