liberdade

A menina, que sempre foi presa, teve um dia de liberdade. ela tinha 7 anos e estava sempre sozinha em casa. Nunca soube exatamente o porquê, não sabia aonde sua mãe tanto ia todos os dias, visto que a mãe não trabalhava. Um dia a mãe lhe disse para sair e ir andar de bicicleta. A menina mal podia acreditar, sorriu por longos minutos, pegou a bicicleta e saiu, subindo e descendo ladeiras, sentindo o vento nas mãos e cabelos, toda feliz por estar na rua, sozinha, voando. Voltou pra casa depois de um tempo, ela não sabe exatamente quanto, não entedia de tempo. Abriu a porta de casa e ouviu um barulho abafando, uma respiração cansada e um ranger de rede balançando, mas na casa da menina não tinha rede. Andou um pouco mais para o único quarto da casa que dividia com seus pais e viu, pendurada, sua mãe, com um cinto no pescoço sustentado por uma viga. Ela parou por um único segundo olhando o corpo de sua mãe balançando bem devagar, num leve vai e vem sincronizado, já sem força, já sem rumo. Ela correu e se pôs em baixo do corpo; primeiro tentando levantá-lo, depois aceitando que não poderia e somente balançando o corpo em desespero com toda forca que seus sete anos poderiam suportar. De repente, a mãe cai em cima dela, respirando com muita dificuldade, mas viva. O silêncio as une, abraçadas no chão o abraço que nunca foi natural. Depois só se ouve o choro, tão fraco quanto aquelas respirações. A menina pensa que a mãe foi salva. A mãe pensa que quase teve a liberdade.

Jana Canuto
Enviado por Jana Canuto em 10/05/2019
Código do texto: T6643861
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