SER POETA
Ser poeta é não negar as possibilidades dos nossos fracassos, fazer do feio um belo poema. O poeta possui o acesso livre do chorar e do lamento e, quanto maior seu sofrimento, mas há nas pessoas o fascínio, o encantamento de declamar o nosso quase morrer. Ser poeta é isolar-se nas ruelas estreitas do sofrimento dos flagelos humanos e, de pé ser aclamado enquanto estamos caídos, esvaindo-se diante as dores pontiagudas da alma. Ser poeta é ser livre e sem censura para explanar nossas amarguras. Ser poeta é se doar por inteiro, pois a nossa glória vem do sofrimento. Ser poeta é encantar o mundo no bailado fascinante do seu versar e, neste instante, deixar jorrar um chafariz de lágrimas do seu tristonho olhar, enquanto a face é inundada pelo pranto. Os salões se iluminam e ninguém percebe o seu chorar, pois a beleza de seus poemas extasia os amantes, enquanto ele, solitário só lhes resta lamentar, e, triste sina de não ter ninguém mais para amar. Ser poeta é morrer aos poucos de tanto amar e, se alguém um dia dele se lembrar, do céu poderá ver alguns dos seus versos, alguém os declamar. Ser poeta é ser solitário na arte tão encantadora do amar.