Algoz de sonhos
Durante muito tempo ele viveu aqui.
Deixei que entrasse na minha vida e se instalasse nos meus pensamentos.
Como um parasita foi sugando todas as minhas energias.
Escureceu meus dias; confundiu minhas ações.
Impediu que meus olhos enxergassem o brilho do sol no horizonte.
Como um animal, voraz e audaz, rondava, vigiava,
Dominava, como um rei imposto.
Tomou o lugar do que era nobre.
Sem avisar, roubou meus sonhos.
O encanto do porvir.
A doce palpitação da incerteza.
Em seu lugar, colocou a angústia do tempo perdido.
A saudade de momentos nunca vividos.
A ânsia, a dor, a apatia.
Mas algum canto ficou sem seu domínio.
Aí germinaram e cresceram sentimentos, sensações, que estavam adormecidas.
E quanto mais fortes tornavam-se elas, maior a luta contra o antigo ditador.
Este já não aparecia mais.
Sua fraqueza era então meu fortalecimento.
E como uma criança que ouve a melodia perfeita pela primeira vez,
Os espaços dentro de mim reaprenderam a conviver com os botões de rosa.
O hálito quente e ameaçador daquele que havia levado o gosto de ser,
Foi inundado pelo perfume fresco, suave.
E assim como chegou sem ser convidado, ele foi embora.
Fez questão de deixar o lugar marcado, para mostrar que ali fez morada.
E também lá está o sinal da minha luta e a inconfundível alegria da minha vitória.
Todavia, não estou imune a sua influência.
Sempre que sinto a sombra de sua figura aproximando-se, faço florescer minhas armas.
Feitas de cores, cheiros, sons.
Leveza essa que contrasta com a sua dura armadura e fria presença.
Agora sou mais forte, mais consciente de quem sou e do que quero.
Afinal, eu sou a esperança.
Ele era o medo.