Penumbras

Cabeça que dói e palavras que sondam

é pedaço de caminho largado

é desgaste que se finda de insistente

é equívoco e também ilusão

Amonta-se e se deixa amontoado

não seca as folhas mas as queimam ainda verdes

enquanto pesados estão seus olhos

reflete o detalhe mais pequeno, e cresce.

Cresce por que acredita

e decresce na medida que desacredita

Faz da dúvida melhor anseio

Vê na dúvida maior tormento

Já não tem álcool sobre a prateleira

E se teve talvez tenha nele ateado consumação

Consumiu pequenos pedaços

Consumiu grandes imperfeições

Consumiu-se em meu à inchação

Inchou-se de contente

Inchou-se de descontente

Fez seu revés

Cabeça que dói é coração que inflama

É anúncio de passagem que chega

E por meio de cada palavra não dita a gastura

Por meio de cada gesto desfeito a penumbra

Por meio de cada interpretação não feita novas ininterpretações

Se cobre de nada e de nada se satisfaz

E mais uma vez o fosco por assim ser ofusca

e angustiante o pouco de mundo

de desfaz, se quebra, se deixa ir

Não se segura por nada uma vida

Não se vive nada por ninguém

E não se prova

Cabeça que dói é imaginário que sente

É conexão pelo que devia ser desconectado

E desligamento pelo que nunca deva ter sido ligado

É desleixo, ou talvez excesso de cuidado

É por muito querer cuidar, ser talvez um pouco deixado

Tentando alegrar se fazendo obscuro

Tentando ser gente abafando o barulho

E solucionando sem nada solucionar

E postergando, deixando se postergar.

Claudemir Evangelista
Enviado por Claudemir Evangelista em 05/05/2019
Código do texto: T6639957
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