Penumbras
Cabeça que dói e palavras que sondam
é pedaço de caminho largado
é desgaste que se finda de insistente
é equívoco e também ilusão
Amonta-se e se deixa amontoado
não seca as folhas mas as queimam ainda verdes
enquanto pesados estão seus olhos
reflete o detalhe mais pequeno, e cresce.
Cresce por que acredita
e decresce na medida que desacredita
Faz da dúvida melhor anseio
Vê na dúvida maior tormento
Já não tem álcool sobre a prateleira
E se teve talvez tenha nele ateado consumação
Consumiu pequenos pedaços
Consumiu grandes imperfeições
Consumiu-se em meu à inchação
Inchou-se de contente
Inchou-se de descontente
Fez seu revés
Cabeça que dói é coração que inflama
É anúncio de passagem que chega
E por meio de cada palavra não dita a gastura
Por meio de cada gesto desfeito a penumbra
Por meio de cada interpretação não feita novas ininterpretações
Se cobre de nada e de nada se satisfaz
E mais uma vez o fosco por assim ser ofusca
e angustiante o pouco de mundo
de desfaz, se quebra, se deixa ir
Não se segura por nada uma vida
Não se vive nada por ninguém
E não se prova
Cabeça que dói é imaginário que sente
É conexão pelo que devia ser desconectado
E desligamento pelo que nunca deva ter sido ligado
É desleixo, ou talvez excesso de cuidado
É por muito querer cuidar, ser talvez um pouco deixado
Tentando alegrar se fazendo obscuro
Tentando ser gente abafando o barulho
E solucionando sem nada solucionar
E postergando, deixando se postergar.